
No último sábado aconteceu o evento "Ação Verde e Amarela" na praça do poliesportivo, parceria entre a Vale e a prefeitura municipal. Até aí tudo bem, nada impede que a iniciativa privada se una ao poder público para efetivar qualquer projeto ou ação, mas a questão é, para qual objetivo? É fato já conhecido a relação muito próxima entre a Vale e o governo local, estendendo-se à Câmara Municipal, que publicamente solicitou à empresa que se aproximasse mais da população. Essa solicitação revela um interesse muito claro em relação à empresa, que pode estar encontrando resistência ao seus projetos no município e, também, uma perceptível subversiência dos representantes da comunidade à Vale. É evidente que não elegemos nossos representantes para esse papel e também é claro que o povo espera que o interesse público não seja atropelado pelo interesse privado, mas será que nossos representantes distinguem isso? Voltando ao verde amarelo, que está no imaginário do povo brasileiro como as principais cores da nação, percebemos a sua apropriação por uma empresa que já foi desse povo, inteiramente brasileira, antes de ser privatizada* e hoje já não pode ser assim chamada, tornando-se uma poderosa transnacional com atuação em diversos países. A mudança do logotipo e do nome, com as cores verde e amarela, aliada à uma milionária e intensa propaganda nos meios de comunicação visam associar a empresa à aspectos positivos ligados à nação e ao imaginário das pessoas, atingindo o inconsciente coletivo e fazendo crer que a Vale é uma empresa "nossa", enquanto enche o cofre dos seus acionistas com lucros exorbitantes, degrada o meio ambiente, causa conflitos socioambientais, explora os trabalhadores e empresas terceirizadas, extrai nossas riquezas a troco de compensações irrisórias e as remete, sem agregar valor, para o exterior. Essa, sim, é uma verdadeira empresa verde e amarela.
*Depois da privatização a maior parte das ações da CVRD passou para a Valepar, uma sociedade financeira crada por empresas interessadas em comprar o pacote majoritário da Vale. Em 2007, a Valepar detinha 53,3% do capital ordinário da empresa, sendo o BNDESpar ersponsável por 6,8% da ações. O restante encontrava-se distribuído entre investidores diversos, sendo 27% não brasileiros e 12,9% brasileiros.
Fonte: Dossiê dos Impactos e Violações da Vale no Mundo (2010).
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