segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Verde e Amarela



No último sábado aconteceu o evento "Ação Verde e Amarela" na praça do poliesportivo, parceria entre a Vale e a prefeitura municipal. Até aí tudo bem, nada impede que a iniciativa privada se una ao poder público para efetivar qualquer projeto ou ação, mas a questão é, para qual objetivo? É fato já conhecido a relação muito próxima entre a Vale e o governo local, estendendo-se à Câmara Municipal, que publicamente solicitou à empresa que se aproximasse mais da população. Essa solicitação revela um interesse muito claro em relação à empresa, que pode estar encontrando resistência ao seus projetos no município e, também, uma perceptível subversiência dos representantes da comunidade à Vale. É evidente que não elegemos nossos representantes para esse papel e também é claro que o povo espera que o interesse público não seja atropelado pelo interesse privado, mas será que nossos representantes distinguem isso? Voltando ao verde amarelo, que está no imaginário do povo brasileiro como as principais cores da nação, percebemos a sua apropriação por uma empresa que já foi desse povo, inteiramente brasileira, antes de ser privatizada* e hoje já não pode ser assim chamada, tornando-se uma poderosa transnacional com atuação em diversos países. A mudança do logotipo e do nome, com as cores verde e amarela, aliada à uma milionária e intensa propaganda nos meios de comunicação visam associar a empresa à aspectos positivos ligados à nação e ao imaginário das pessoas, atingindo o inconsciente coletivo e fazendo crer que a Vale é uma empresa "nossa", enquanto enche o cofre dos seus acionistas com lucros exorbitantes, degrada o meio ambiente, causa conflitos socioambientais, explora os trabalhadores e empresas terceirizadas, extrai nossas riquezas a troco de compensações irrisórias e as remete, sem agregar valor, para o exterior. Essa, sim, é uma verdadeira empresa verde e amarela.

*Depois da privatização a maior parte das ações da CVRD passou para a Valepar, uma sociedade financeira crada por empresas interessadas em comprar o pacote majoritário da Vale. Em 2007, a Valepar detinha 53,3% do capital ordinário da empresa, sendo o BNDESpar ersponsável por 6,8% da ações. O restante encontrava-se distribuído entre investidores diversos, sendo 27% não brasileiros e 12,9% brasileiros.
Fonte: Dossiê dos Impactos e Violações da Vale no Mundo (2010).

Acesse também: http://www.justicanostrilhos.org/








Um comentário:

Alice Okawara disse...

de verde amarela a vale não tem nada, aliás, de verde agora ela só tem o uniforme, que mudou do tom de marrom claro e muito mais coerente, que vestiu por tanto tempo seus funcionários, para um verde esmaecido, será que foi intencional?
esta semana assisti o documentário produzido pelo "justiça nos trilhos" e confesso que chorei e lamentei a nossa impotência diante das injustiças mostradas, começando pela própria privatização e a forma como ela aconteceu. o documentário, que mostra a atuação da vale no maranhão e pará,descortina uma realidade ignorada pela mídia e que deveria ser amplamente divulgada, para que as populações das áreas afetadas ou pretendidas a tal, pudessem fazer uma escolha consciente, para que os cidadãos de caeté e dos municípios que receberão os impactos sociais e ambientais do projeto apolo, que fatalmente degradará a serra do gandarela com toda sua riqueza hídrica e biodiversidade, pudessem fazer uma escolha mais justa, como a criação do "parque nacional águas do gandarela", que disputa o mesmo espaço da ação predatória de uma mega mina... a criação do parque também contempla a geração de emprego e o desenvolvimento econômico dessa região, mas não por apenas 17 anos, por muito mais e com uma enorme diferença que é a qualidade de vida.