terça-feira, 16 de setembro de 2014

Caeté: crise da água e políticas públicas.

                                Foto: Ribeirão da Prata - Gandarela (Robson Oliveira)

A estiagem prolongada é fato, mas não é a única desculpa para a falta d’água que afeta de forma grave as zonas urbana e rural do município. Em que pese os já evidentes reflexos das mudanças climáticas o que se percebe é a ausência de uma gestão mais efetiva dos recursos hídricos de Caeté. Diversos bairros e povoados de Caeté já estão sendo atendidos por caminhões-pipa, acontecimento raro no passado que hoje já se torna comum, deixando a população perplexa e assustada com o momento e também com o futuro. O SAAE , dentro de suas limitações, vem tentando cumprir o seu papel, mas esbarra na carência de recursos e principalmente na inexistência de políticas públicas em torno da água, da qual seria, por ser a autarquia de água e esgotos, um dos seus principais interessados. Há alguns anos foram criadas por iniciativa do município diversas APAs cujo objetivo principal seria garantir a preservação de mananciais e de seus ecossistemas para assegurar o fornecimento de água aos consumidores do município, mas o que se viu foi a criação das unidades de conservação em lei e não a efetivação das mesmas na prática. A lei das APAs prevê a nomeação de um conselho para gestão das mesmas, mas por falta de vontade política tal órgão nunca foi criado e portanto, a governança sobre as nossas águas nunca se efetivou, o que reflete na grave crise hídrica que atravessamos. Quantas nascentes secaram nesse período por falta de fiscalização sobre o desmatamento? Quantos poços foram abertos sem autorização? Como está o controle sobre o uso da água nas bacias ocupadas pela agricultura, estatisticamente a maior consumidora de água? Como está o controle sobre os processos de expansão imobiliária urbana e rural? Como são dadas autorizações para projetos de mineração sem levar em conta necessidade de abastecimento público? Quais são os projetos de recuperação de nascentes e preservação ambiental? Quais são os projetos de educação ambiental? Quais são as tecnologias ofertadas á sociedade para economia e reaproveitamento de água? Muitas perguntas poderiam ser feitas envolvendo a questão da água e do meio ambiente de forma geral e a maioria não poderia ser respondida, porque não existem políticas públicas ,consistentes e continuadas, com ações efetivas que pelo menos minimizassem a crítica situação atual.  O Macaca clama no deserto há anos: não temos nenhuma disponibilidade de água além do que podemos contar porque estamos a montante da bacia, por isso a necessidade imperiosa de cuidar e preservar esses recursos priorizando o abastecimento público acima de qualquer outro uso. Quando o Macaca se posiciona contra o Projeto Apolo da Vale na Serra do Gandarela é porque sabe que as preciosas águas do lugar, as mais abundantes e de melhor qualidade, garantirão o abastecimento futuro do município. Essa mesma empresa elaborou junto com o município um Plano Diretor de Recursos Hídricos e o guarda a sete chaves como moeda de trocas futuras, não o disponibilizando para a comunidade, resumindo, a Vale sabe mais sobre a água de Caeté que os próprios caeteenses. A falta de visão estratégica de governantes movidos pelo imediatismo e pelo canto de sereia da mineração poderá custar muito caro às coletividades de Caeté e região.  Vai-se o minério e o lucro, junto, a água e o futuro.  A sociedade organizada precisa cobrar ações dos governos, haja vista exemplos como o de São Paulo e outros lugares com problemas em relação à escassez de água destacados pela mídia, com a privatização dissimulada desse bem comum, muitos governos distribuíram lucros aos acionistas ao invés de investirem na melhoria do sistema de abastecimento.  O recente Plano Municipal de Saneamento Básico, iniciativa da sociedade civil no importante  espaço dos comitês de bacias hidrográficas, em alguns dos quais o Macaca ocupa cadeira, representa um avanço, mas tem que ser levado à prática para beneficiar a comunidade de forma ampla . A crise d’água já está aí e já chegou às nossas portas, ou melhor, às nossas torneiras mais cedo do que imaginávamos.

Um comentário:

Unknown disse...

Estava ontem na cachoeira do maquiné no morro vermelho, região do gandarela, onde sempre vou me banhar e receber esse contato com a natureza que é vital para mim, sempre vejo lá pessoas de bem que levam suas famílias, seus filhos, cachorros, vao lá ciclistas, motociclistas, pessoas fazendo caminhada, vêm de Caete, Raposos, Rio Acima, Nova Lima. A cachoeira mais linda de Caeté, estávamos eu e minha namorada onde aconteceu um fato nada agradável, apareceram dois rapazes nos dizendo que teríamos q ir embora, questionados por nós, responderam que são terceirizados da Vale,e que estavam apenas cumprindo seu trabalho, eu me retirei por estar com minha namorada, mas caso contrário eu não sairia por me sentir assim como qualquer outro ser humano ser participante desse matrimônio natural, e concebendo ser impossível ser vendido ou negociado, sabendo a importânciaque a água tem em toda forma de vida. Enfim, vejo na Macaca o único órgão interessado em proteger a Natureza, e gostaria de fazer parte desse movimento, e estou disposto a lutar contra o projeto Apolo da Valenada enquanto me restarem argumentos kkkk