terça-feira, 30 de dezembro de 2014

MACACA – 15 ANOS


O Movimento Artístico Cultural e Ambiental de Caeté, o Macaca, está comemorando 15 anos de existência. Nesse período foram muitas realizações desde a sua fundação no já longínquo ano de 1999 que possibilitaram à entidade a se firmar e a se legitimar nos seus campos de atuação em Caeté e em Minas Gerais.  O Macaca foi criado por  pessoas que atuavam de forma individual ou em grupos informais em Caeté e que perceberam a partir de um vazio na sociedade local  a necessidade de uma entidade que se norteasse por demandas nos setores ambiental, artístico e cultural, especialmente o primeiro.  Como uma dos objetivos traçados para o Macaca seria o de atuar na organização da sociedade civil, o município passava por um momento difícil, resultado do vazio deixado por uma crise econômica com graves consequências sociais devido ao fechamento da indústria que havia sido a base de sustentação econômica da cidade por décadas. A primeira ação nesse sentido foi participar de forma atuante na criação do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), cujo formato foi considerado à época como um dos mais avançados e democráticos do país,  pois não era controlado pelo poder público como era de praxe e a eleição da diretoria se dava entre os seus membros, algo inédito, pois regra geral era a presidência nas mãos do secretário de meio ambiente.  O Macaca assumiu a presidência do Codema em um momento importante, pois com o fim do ciclo siderúrgico um novo ator tentava ocupar o espaço na economia local com uma proposta que ameaçava o maior patrimônio do lugar e um dos maiores de Minas Gerais: a Serra da Piedade. A eclosão do movimento S.O.S. Serra da Piedade, no qual o Macaca se inseria, contra a ameaça de ampliação da mineração para o território de Caeté, foi um marco na luta ambiental do Estado, pois ao final dos cinco anos de conflito pela primeira vez na história de Minas uma mineradora tinha suas atividades paralisadas por força da mobilização popular. É importante ressaltar que o movimento de preservação da Serra da Piedade tinha a simpatia e apoio da população, mas por outro lado o setor minerário aglutinou em torno de seu projeto as elites políticas e econômicas locais que, com raras exceções, movidas por interesses diversos, empreenderam uma intensa campanha contra o S.O.S. Serra da Piedade e suas principais lideranças. Câmara, governo, imprensa e especialmente a Associação Comercial se uniram em um discurso que colocava o movimento ambiental como inimigos do progresso e seus membros como “forasteiros”, palavra com sentido depreciativo, utilizada à época da colônia pelos senhores da região das minas para alcunhar os recém-chegados atraídos pelo ouro, termo resgatado das profundezas do inconsciente coletivo enraizado no conflito da Guerra dos Emboabas da qual Caeté foi um dos principais palcos. Esse discurso encontrou eco em diversos setores da sociedade que destituídos de consciência ambiental, consciência de classe e capacidade crítica ainda hoje acreditam que os ambientalistas são contra o progresso. Mas qual progresso e a que preço?  Finda a questão da Serra da Piedade, ainda que os danos ao patrimônio e ao meio ambiente não fossem reparados e os responsáveis e seus apoiadores responsabilizados criminalmente, o Macaca percebeu que a luta havia se ampliado para além das fronteiras de Caeté e tomado dimensões nunca imaginadas. Atuando na esfera local nos conselhos e na criação de eventos como o Museu do Carnaval, embrião do resgate do carnaval de rua da cidade, que resultou no sucesso do Carnacatu, Memorial do Futebol e ações de preservação na APA Pedra Branca dentre outras, percebeu que somente plantar árvores, ainda que necessário e importantíssimo, haja vista o plantio na APA citada e em outros locais, não mudaria a realidade de forma geral, pois a questão era estrutural, enraizada profundamente no modelo de exploração econômica do homem e da natureza, ampliado pelo receituário neoliberal de um capitalismo em crise. Pensar globalmente e agir globalmente, contrariando antiga palavra de ordem reducionista, era o que iniciava a se desenhar como princípio para os movimentos socioambientais da época em uma realidade de mercados e relações mundializadas que se aceleravam e utilizavam as plataformas fluídas do meio técnico-científico-informacional.

A articulação para a criação de uma frente de movimentos e organizações para enfrentar coletivamente a grave questão ambiental do Estado foi proposta do Macaca que graças a visibilidade do sucesso no embate da Serra da Piedade e a convergência de ideários de grupos e pessoas  que se juntaram ou eram simpáticas à luta, reuniu no alto da própria serra, que agregou à sua diversidade simbólica a dimensão ambiental, representações de grande parte do Estado que criaram o Movimento Serra e Águas de Minas (MovSam). Essa ampla frente surgiu para aliar ativismo com ação política e romper com a relação promíscua entre grandes Ongs, com seu ambientalismo de resultados, Estado e corporações que dominavam o campo ambiental e que traziam, com seus acordos, graves prejuízos ao meio ambiente e sociedade.

Em meados de 2009 surgia a questão Gandarela com o pedido da Vale para o seu Projeto Apolo e mais uma vez o Macaca se posicionou contra e, mais uma vez, se repetiram as práticas das oligarquias locais como no caso Serra da Piedade, comprovando que as mudanças na sociedade são muito lentas, ainda mais em um meio onde o conservadorismo é arraigado, mesmo que a cidade se localize a poucos quilômetros de Belo Horizonte, uma grande metrópole nacional. Como o adversário dessa vez era muitas vezes mais poderoso do que a Brumafer da Serra da Piedade, mas levando-se em conta que ambas faziam ou fazem parte do complexo minero-siderúrgico que possui grande poder econômico e ampla capacidade de articulação e influência, especialmente no meio político, criou-se uma frente específica de luta à partir do MovSam, o Movimento de Preservação da Serra do Gandarela do qual o Macaca participa em conjunto com organizações e coletividades da região atingida. A criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela recentemente não encerrou a luta, pois áreas importantíssimas sob o ponto de vista da preservação de geossistemas e do aquífero associado à esses, levando-se em conta a grave crise hídrica que se apresenta na atualidade, foram cedidas à empresa Vale que exerceu forte pressão sobre os governos e que visando somente o lucro de seus acionistas pode prejudicar irremediavelmente grande parte da população da região metropolitana que depende da água da região agora e para o futuro.

Na esteira de realizações o Macaca, que tem como um dos eixos fundamentais a preservação do patrimônio e estímulo à cultura está produzindo o documentário “Batuque, com cheiro de Alecrim do Campo e Umbigadas”, financiado pelo Fundo Estadual de Defesa de Direitos Difusos (Fundif) e que visa registrar e resgatar essa quase esquecida manifestação cultural de Morro Vermelho e com produção em fase adiantada será um presente da entidade para Caeté.

O Macaca continua exercendo o seu papel, apesar de todas as dificuldades que se colocam no caminho, mas sempre coerente com os seus princípios que angariaram o respeito de muitos dentro da cidade e além, exceto daqueles que ainda não compreenderam a mudança dos tempos e a nova direção dos ventos.


Sonhando e construindo concretamente as utopias, o Macaca prossegue. 

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