segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Olha o Carnacatu aí gente!

Ademir Bento, Sérgio e os músicos: muito animados. (foto: Ana Flávia Coelho)

Esquentando os tamborins. Foi assim o primeiro Grito do Carnacatu no sábado passado quando muita gente apareceu prá prestigiar, sambando ao som da bandinha que tocava belas marchinhas. Os músicos, meninada muito jovem e talentosa mandou muito bem e a tarde ficou superanimada. Para o Carnacatu desse ano já tem até samba-enredo composto pelo Claret da farmácia, vamos ver se ele deixa publicar a letra. O próximo grito é no sábado, dia 30, às 18 horas, na "praça dos passarinheiros" no centro, em frente à "Pharmácia Ideal", não percam. "Quem não gosta de Samba..."

O Carnacatu é organizado pelo MACACA em parceria com a Associação de Artistas e Artesãos de Caeté e conta com a participação especial, daí o seu nome, do grupo folclórico do Maracatu, com o Raimundo Maracatu, os bonecos Geni, Zepelim, Boi-da-Manta e outros personagens. Conta também com o empenho e colaboração dos músicos da cidade e tem como objetivos, resgatar o carnaval tradicional e mostrar a beleza e riqueza da música popular brasileira e seus compositores, com foco nas marchinhas e outros gêneros carnavalescos autênticos, em um momento onde o consumo de massa, baseado em produções pobres e de gosto duvidoso se impõe nas mídias. A festa popular é direcionada principalmente para as famílias e para as crianças que vêm participar de uma brincadeira alegre, sadia e sem violência, como deve ser o carnaval. "Ô abre alas..."

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

AUDIÊNCIAS PÚBLICAS

Na quinta e sexta passadas, aconteceram as audiências públicas do projeto Mina Apolo da Vale nas cidades de Caeté e Raposos, respectivamente. O MACACA não participou de nenhuma das audiências porque não foi comunicado formalmente pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), conforme a Resolução CONAMA nº 09. Essa resolução obriga o órgão responsável pelo licenciamento, no caso a FEAM, a emitir carta registrada a todos os requerentes da audiência. O MACACA, bem como outras entidades como, por exemplo, a Associação dos Artesãos e Artistas de Caeté, não receberam nenhuma correspondência com a devida antecedência para se prepararem a tempo hábil para a audiência, que foi marcada para os dias 14 e 15 de janeiro, algo que causou estranheza, senão desconfiança, por tratar-se de característico mês de férias, com muitas pessoas viajando e com todas as escolas fechadas. Outro fato foi a forma de divulgação das audiências, de repente às vésperas do evento, folhetos e faixas da empresa surgiram pela cidade, convidando-se para a audiência, ainda que os jornais tenham publicado anúncios da prefeitura, mas o que se percebeu foi a total ignorância da maior parte da população sobre o significado de algo que poderia mudar totalmente as suas vidas.
Na audiência de Caeté a primeira sensação foi de um “circo armado”, dezenas de faixas de apoio à Vale cobriam toda a extensão dos gradis da arquibancada, a presença de muitos funcionários da prefeitura, inclusive na fila de inscrição para garantir o direito de falar na audiência e o “exército!” de verde da empresa. Após a exposição do projeto pela Vale, as falas se sucederam pró e contra o empreendimento, estas a medida que se sucediam eram intensamente aplaudidas. O coordenador do Projeto Manuelzão, Poliano, falou com veemência em defesa da Serra do Gandarela, local onde a Vale pretende se instalar a Mina Apolo. As pessoas que foram ao poliesportivo perceberam que o discurso hegemônico em favor da Vale na cidade não era totalmente verdadeiro, muitas coisas eram escondidas, como por exemplo, a riqueza natural da Serra do Gandarela, inclusive como grande manancial de água pura e de qualidade e os impactos sobre o meio urbano. A grande vitória do Movimento pela preservação da Serra do Gandarela foi o compromisso público do presidente da FEAM, Sr. Ilmar Bastos de convocar audiências públicas para os municípios de Santa Bárbara, Rio Acima e Belo Horizonte, todos afetados direta ou indiretamente pela Mina Apolo.
Na audiência de Raposos no dia 15 a história foi diferente, primeiro um grande aparato policial no recinto, o cine-teatro da cidade, com o uso ostensivo de armas pesadas, configurando-se em um ato de intimidação. A intervenção dos ambientalistas levou o presidente da FEAM a solicitar a retirada dos policiais que se postaram na rua. O projeto da Mina Apolo prevê a construção de uma imensa barragem de rejeitos na bacia do Ribeirão da Prata, um curso d água de águas límpidas, pouco acima da cidade, algo inadmissível que só poderia vir de uma empresa que só se preocupa com o lucro e não com a vida das pessoas, uma empresa que se auto-intitula séria, responsável e verde-amarela. As vozes que se levantaram conta o empreendimento foram inúmeras, desde pessoas humildes, crianças, velhos e representantes de setores mais engajados. A defesa da Mina Apolo veio dos representantes dos governos municipais, inclusive da prefeitura de Raposos, contrariando a vontade do povo, do prefeito de Santa Bárbara, que desconsidera o seu próprio Plano Diretor que protege o local e do prefeito de Caeté, que após sua fala, onde tentou desqualificar os que questionavam o projeto, levou uma sonora vaia e abandonou o recinto pouco depois. A população de Raposos está engajada na defesa de seu patrimônio e de suas vidas e vê para a Serra do Gandarela e para bacia do Ribeirão da Prata (tombada pelo município) outros usos e possibilidades além dos que vêem sendo impostos pela mineração e seus associados.
As audiências tiveram um saldo positivo, pois apesar da limitação do tempo de fala, dos discursos da empresa, embasados na supremacia da técnica, da tentativa de manipulação do “jogo”, conseguiu-se esclarecer alguns pontos e levantar dúvidas importantes sobre o projeto Mina Apolo. A vida de milhares de pessoas, talvez milhões se somarmos Belo Horizonte, ultrapassam os parcos 17 anos previstos para a duração da Mina, que certamente deixará um rastro de destruição, inclusive de possibilidades econômicas como o turismo, de preservação, como a do Parque Nacional do Gandarela e de pesquisa científica, com foco na sua rica biodiversidade e formações naturais.
A discussão esta aberta e espera-se que saibamos escolher o que queremos para nós e para as próximas gerações, podemos escolher entre a morte e a vida.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

CARTA À POPULAÇÃO DE CAETÉ.

O Movimento Artístico, Cultural e Ambiental de Caeté - MACACA, vem a público manisfestar-se a respeito da possível implantação da Mina Apolo, da empresa Vale, em nosso município.

Como estamos vendo a possível chegada da Vale?

Com muita preocupação. Estamos acompanhando desde o final de 2007, quando saíram as primeiras notícias sobre uma mina de ouro gigantesca em nosso município assim como um mega empreendimento de minério de ferro a céu aberto.

Onde é o local em que a Vale pretende implantar a Mina Apolo?

No extremo sul de Caeté, logo abaixo de Morro Vermelho, na Serra do Gandarela, conhecida também como Maquiné, Pianco ou Piaco. Esta serra funciona como uma grande caixa d’água que abastece com as melhores águas o Rio das Velhas (na vertente de Caeté) e o Rio Doce (na vertente de Santa Bárbara). Isso significa que a Serra do Gandarela é responsável pelo abastecimento público de água de Santa Bárbara, Barão de Cocais, Raposos, Rio Acima e Belo Horizonte e parte de Caeté .


Motivos para a nossa preocupação:


1. A Vale veio tentando licenciar a Mina Apolo de forma fragmentada, como se fosse um empreendimento de porte insignificante – dessa forma não seriam necessários estudos de impacto ambiental e audiências públicas, por exemplo.

2. Este empreendimento é tão grande que seus impactos serão imensos, não só para Caeté, como para Santa Bárbara, Raposos, Rio Acima, Barão de Cocais e Belo Horizonte. A Mina Apolo está planejada para ocupar aproximadamente 20 % do nosso município. É precisamente a área que tem uma grande vocação turística.

3. A atividade de mineração não dá mais de uma “safra” e, quando acabar o minério, nada mais haverá: nossas nascentes, as inúmeras cachoeiras, a Bacia do Ribeirão da Prata com suas águas de qualidade, a biodiversidade e a paisagem. Até os empregos acabarão.

4. Caeté depende da água que nasce em seu território, porque os demais municípios ao redor estão abaixo de nós. Isso significa que precisamos proteger nossos mananciais para não ter sérios problemas de abastecimento público. Água é, assim, o bem mais precioso que temos – muitos lugares não têm os recursos hídricos em quantidade e qualidade que nós temos.

5. Será que tem sentido perder definitivamente este bem em troca de empregos e geração de renda da atividade de mineração que terminará em 17 anos? Será que não podemos criar empregos e geração de renda de maior qualidade, e sem tantos prejuízos, através de outras alternativas econômicas, como o turismo e a agricultura bem implantados?

6. E nossas crianças e seus filhos? Que futuro terão? Que água beberão ou quanto pagarão por ela se tiver que ser tratada e trazida de longe?

7. Não queremos ver Caeté e o distrito de Morro Vermelho caóticos, como ficou Barão de Cocais com a Mina de Brucutu. A Mina Apolo prevê uma média de 2.000, e 4.100 homens na fase de implantação. A maioria vem sem suas famílias.

8. O aumento repentino da população trará problemas no atendimento público de saúde e no trânsito, aumento considerável da criminalidade e da prostituição, crescimento urbano desordenado, aumento do custo de vida.

9. Estamos percebendo que o valor dos aluguéis já aumentou muito e a comunidade de Caeté que não tem moradia própria vai passar situações muito difíceis quando renovarem seus contratos de locação.

10. A tranqüilidade, e a relativa segurança, que ainda temos e tanto prezamos, que nos faz sentir uma sensação boa quando deixamos a BR e iniciamos a subida para Caeté, acabará se este empreendimento acontecer.

Como vemos a questão da geração de empregos?

Para nós, a atividade do turismo, por exemplo, gera empregos e renda de melhor qualidade e maior diversidade e possibilita uma circulação mais justa de dinheiro no município. E, quando bem implantada, traz a preservação do meio ambiente e da água – o que significa qualidade de vida não só para a presente como para as futuras gerações. Estamos a 50 km de uma grande capital, cuja população precisa cada vez mais de lugares com a beleza e qualidade de vida de de Caeté para seu lazer e descanso. Isso sim é uma grande “mina de ouro”. Além do que o município poderá receber recursos por prestação de serviços ambientais referente ao fornecimento de água de qualidade para outros municípios assim como ICMS ecológico. Mas para isso, é necessário que haja interesse do poder público e de nossos políticos. Caso a Mina Apolo aconteça, essa alternativa fica inviável.
Será que vale a pena?


Pedimos a cada caeteense que reflita profundamente se os interesses econômicos da mineração – que visam atender a demanda internacional e manter o lucro dos acionistas – vão continuar prevalecendo sobre os bens mais valiosos para a VIDA e o FUTURO.

Este é o desafio pelo qual o mundo passa no momento: escolher entre o “aqui e agora” - num modelo de desenvolvimento baseado no materialismo - e o futuro da vida no planeta Terra.

A escolha é nossa!

E somos nós, e quem virá depois, que pagarão por essa escolha.

Refletir e participar é fundamental.

omacaca@yahoo.com.br

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Serra do Gandarela: Audiência pública no dia 14 de janeiro

Na próxima quinta-feira, dia 14 de janeiro, será realizada no Poliesportivo, das 19:00 às 22:00 horas, audiência pública. A sua participação, cidadão, é importante não somente para a cidade de Caeté, Santa Bárbara, Rio Acima e Raposos, que são as cidades que receberão diretamente os impactos socioambientais do empreendimento Projeto Mina Apolo da Vale, que se localizará na Serra do Gandarela, mas para toda a região metropolitana e seu entorno.


Para quem não conhece ainda a região da Serra do Gandarela, ela possui uma das maiores geodiversidades do Quadrilátero Ferrífero, mais de 100 cavernas, sítio paleoambiental, variedades de formas de relevo e diferenças de altitude marcantes.


É parte integrante do Espinhaço, considerado pela UNESCO como reserva mundial da biosfera, é divisor das bacias do Rio São Francisco e do Rio Doce, é de importância biológica extrememente alta, com características únicas, endemismo de fauna e flora, e contém importantes mananciais de abastecimento para a região metropolitana.


A Serra do Gandarela apresenta uma das maiores manchas de Mata Atlântica do estado de Minas Gerais, e uma grande área ocupada por mata nativa, seja de floresta, campos ou cerrado.

Historicamente a região do Gandarela também é bastante importante, abrigando em seus municípios o mais significativo conjunto dos povoamentos originários do Ciclo do Ouro, com várias ruínas de edificações cercadas de lendas e mitos.

Justamente por toda essa importância, a Serra do Gandarela está inserida na APA SUL (Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte), e segundo essa unidade de conservação, representa a mais extensa região ocupada por ambientes naturais da porção metropolitana de Belo Horizonte e produz um grande volume de água de vital importância para a população humana regional. Além de possuir um grande potencial hídrico, também possui um enorme potencial turístico, suas inúmeras cachoeiras e cascatas são de beleza ímpar.


Então, será que você não está envolvido(a) nessa questão?
Participe agora, depois não adianta lamentar ou reclamar...
Fotografia: Alice Okawara

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

MENSAGEM DE FINAL DE ANO



Mais um final de ano, período propício para a reflexão, para se definir novos rumos, para reacender o lume da esperança. O MACACA percorreu esse tempo com brio, primeiro com o sensacional Carnacatu, onde o viés cultural da entidade foi posto à prova na organização, junto com outras entidades progressistas, do evento da festa popular do Carnaval. Nesse momento, quando a cidade se via triste, à mercê da vontade de um poder público omisso e dos “promoters” de plantão, com sua capacidade de se apropriar das festas do povo para torná-las fontes de lucro, desvinculando-as de seu sentido simbólico e cultural, a entidade, demonstrou sua capacidade. Em outras ações como o movimento contra a degradação da qualidade de vida, como no caso da poluição sonora e na participação em movimentos de cidadania como no SOS Serra da Piedade, Movimento Serras e Águas de Minas, Conselhos Municipais, Comitês de Bacia e Conselho Nacional de Recursos Hídricos, o MACACA angariou respeito e prestígio até mesmo de seus adversários mais ferrenhos, por pautar-se pela ética e seriedade.


Hoje vivemos em nível local, momentos difíceis, pelo cerceamento dos espaços de cidadania, exemplificados na transformação do CODEMA em um arremedo de fórum de discussões e decisões, seguido dos demais Conselhos, criados pelo Constituição cidadã de 1998, para a participação democrática e popular, em instâncias consultivas, não mais deliberativas, encabeçadas por agentes do executivo. Este retrocesso, comandado pelo atual governo, sobre conquistas legítimas da sociedade, resultado de lutas históricas, poderá representar danos duradouros na sociedade local que tencionava participar de maneira proativa nas decisões de seu interesse depois de décadas sob o jugo do paternalismo. Outra preocupação que se acrescenta são os projetos de mineração que o município é objeto, como o mega-projeto Apolo da Vale do qual a população tem poucas informações, e quando são divulgadas, se fazem massivamente através das elites locais e mídia que se juntam no discurso em torno de seus benefícios, ocultando deliberadamente os grandes impactos socioambientais. A Serra do Gandarela, região de grande beleza, rica biodiversidade e recursos hídricos importantíssimos para o local e para as populações de diversos municípios próximos é pouquíssimo conhecida pelos caeteenses. A mineradora Vale promoveu visitas de diversos segmentos sociais de Caeté às suas minas em outros municípios como a de Brucutu em São Gonçalo do Rio Abaixo, mas estranha ou deliberadamente não os levou à Serra do Gandarela, pois se o fizesse enfrentaria oposição semelhante à da mineração na Serra da Piedade, ainda alvo de cobiça da AVG-MMX, tal a beleza do lugar. Outra preocupação no quadro de degradação são os projetos da MSol, principalmente em Morro Vermelho, pelos impactos sobre as águas e sobre o patrimônio histórico do distrito. Em todos os fatos citados o MACACA atua em conjunto com diversas entidades e com o Ministério Público, sabedor do seu papel e, o mais importante, com o reconhecimento e apoio da maioria da população.


São tempos difíceis para a cidade e para o planeta, mas nunca devemos perder a esperança em dias melhores, na lúcida loucura da utopia de um novo mundo, vamos continuar firmes, unidos e com os corações iluminando nossos caminhos.
Feliz Ano, hoje, amanhã e sempre.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Fonte: http://notasaocafe.wordpress.com/category/notas-ao-cafe/page/8/


O texto abaixo é de Eduardo Galeano, jornalista uruguaio, autor dentre outras obras de "As Veias Abertas da América Latina".

Neste momento de discussão dos problemas ambientais vale a pena ler:

Eduardo Galeano – Quatro frases que fazem o nariz do Pinóquio crescer


1 – Somos todos culpados pela ruína do planeta.

A saúde do mundo está feito um caco. ‘Somos todos responsáveis’, clamam as vozes do alarme universal, e a generalização absolve: se somos todos responsáveis, ninguém é. Como coelhos, reproduzem-se os novos tecnocratas do meio ambiente. É a maior taxa de natalidade do mundo: os experts geram experts e mais experts que se ocupam de envolver o tema com o papel celofane da ambiguidade. Eles fabricam a brumosa linguagem das exortações ao ‘sacrifício de todos’ nas declarações dos governos e nos solenes acordos internacionais que ninguém cumpre. Estas cataratas de palavras – inundação que ameaça se converter em uma catástrofe ecológica comparável ao buraco na camada de ozônio – não se desencadeiam gratuitamente. A linguagem oficial asfixia a realidade para outorgar impunidade à sociedade de consumo, que é imposta como modelo em nome do desenvolvimento, e às grandes empresas que tiram proveito dele. Mas, as estatísticas confessam.. Os dados ocultos sob o palavreado revelam que 20 por cento da humanidade cometem 80 por cento das agressões contra a natureza, crime que os assassinos chamam de suicídio, e é a humanidade inteira que paga as consequências da degradação da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da água, do enlouquecimento do clima e da dilapidação dos recursos naturais não-renováveis. A senhora Harlem Bruntland, que encabeça o governo da Noruega, comprovou recentemente que, se os 7 bilhões de habitantes do planeta consumissem o mesmo que os países desenvolvidos do Ocidente, “faltariam 10 planetas como o nosso para satisfazerem todas as suas necessidades.” Uma experiência impossível. Mas, os governantes dos países do Sul que prometem o ingresso no Primeiro Mundo, mágico passaporte que nos fará, a todos, ricos e felizes, não deveriam ser só processados por calote. Não estão só pegando em nosso pé, não: esses governantes estão, além disso, cometendo o delito de apologia do crime. Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza, é o que está fazendo adoecer nosso corpo, está envenenando nossa alma e está deixando-nos sem mundo.


2 – É verde aquilo que se pinta de verde.

Agora, os gigantes da indústria química fazem sua publicidade na cor verde, e o Banco Mundial lava sua imagem, repetindo a palavra ecologia em cada página de seus informes e tingindo de verde seus empréstimos. “Nas condições de nossos empréstimos há normas ambientais estritas”, esclarece o presidente da suprema instituição bancária do mundo. Somos todos ecologistas, até que alguma medida concreta limite a liberdade de contaminação. Quando se aprovou, no Parlamento do Uruguai, uma tímida lei de defesa do meio-ambiente, as empresas que lançam veneno no ar e poluem as águas sacaram, subitamente, da recém-comprada máscara verde e gritaram sua verdade em termos que poderiam ser resumidos assim: “os defensores da natureza são advogados da pobreza, dedicados a sabotarem o desenvolvimento econômico e a espantarem o investimento estrangeiro.” O Banco Mundial, ao contrário, é o principal promotor da riqueza, do desenvolvimento e do investimento estrangeiro. Talvez, por reunir tantas virtudes, o Banco manipulará, junto à ONU, o recém-criado Fundo para o Meio-Ambiente Mundial. Este imposto à má consciência disporá de pouco dinheiro, 100 vezes menos do que haviam pedido os ecologistas, para financiar projetos que não destruam a natureza. Intenção inatacável, conclusão inevitável: se esses projetos requerem um fundo especial, o Banco Mundial está admitindo, de fato, que todos os seus demais projetos fazem um fraco favor ao meio-ambiente. O Banco se chama Mundial, da mesma forma que o Fundo Monetário se chama Internacional, mas estes irmãos gêmeos vivem, cobram e decidem em Washington. Quem paga, manda, e a numerosa tecnocracia jamais cospe no prato em que come. Sendo, como é, o principal credor do chamado Terceiro Mundo, o Banco Mundial governa nossos escravizados países que, a título de serviço da dívida, pagam a seus credores externos 250 mil dólares por minuto, e lhes impõe sua política econômica, em função do dinheiro que concede ou promete. A divinização do mercado, que compra cada vez menos e paga cada vez pior, permite abarrotar de mágicas bugigangas as grandes cidades do sul do mundo, drogadas pela religião do consumo, enquanto os campos se esgotam, poluem-se as águas que os alimentam, e uma crosta seca cobre os desertos que antes foram bosques.


3 – Entre o capital e o trabalho, a ecologia é neutra.

Poder-se-á dizer qualquer coisa de Al Capone, mas ele era um cavalheiro: o bondoso Al sempre enviava flores aos velórios de suas vítimas... As empresas gigantes da indústria química, petroleira e automobilística pagaram boa parte dos gastos da Eco 92: a conferência internacional que se ocupou, no Rio de Janeiro, da agonia do planeta. E essa conferência, chamada de Reunião de ***pula da Terra, não condenou as transnacionais que produzem contaminação e vivem dela, e nem sequer pronunciou uma palavra contra a ilimitada liberdade de comércio que torna possível a venda de veneno. No grande baile-de-máscaras do fim do milênio, até a indústria química se veste de verde. A angústia ecológica perturba o sono dos maiores laboratórios do mundo que, para ajudarem a natureza, estão inventando novos cultivos biotecnológicos. Mas, esses desvelos científicos não se propõem encontrar plantas mais resistentes às pragas sem ajuda química, mas sim buscam novas plantas capazes de resistir aos praguicidas e herbicidas que esses mesmos laboratórios produzem. Das 10 maiores empresas do mundo produtoras de sementes, seis fabricam pesticidas (Sandoz-Ciba- Geigy, Dekalb, Pfizer, Upjohn, Shell, ICI). A indústria química não tem tendências masoquistas. A recuperação do planeta ou daquilo que nos sobre dele implica na denúncia da impunidade do dinheiro e da liberdade humana. A ecologia neutra, que mais se parece com a jardinagem, torna-se ***mplice da injustiça de um mundo, onde a comida sadia, a água limpa, o ar puro e o silêncio não são direitos de todos, mas sim privilégios dos poucos que podem pagar por eles. Chico Mendes, trabalhador da borracha, tombou assassinado em fins de 1988, na Amazônia brasileira, por acreditar no que acreditava: que a militância ecológica não pode divorciar-se da luta social. Chico acreditava que a floresta amazônica não será salva enquanto não se fizer uma reforma agrária no Brasil. Cinco anos depois do crime, os bispos brasileiros denunciaram que mais de 100 trabalhadores rurais morrem assassinados, a cada ano, na luta pela terra, e calcularam que quatro milhões de camponeses sem trabalho vão às cidades deixando as plantações do interior. Adaptando as cifras de cada país, a declaração dos bispos retrata toda a América Latina. As grandes cidades latino-americanas, inchadas até arrebentarem pela incessante invasão de exilados do campo, são uma catástrofe ecológica: uma catástrofe que não se pode entender nem alterar dentro dos limites da ecologia, surda ante o clamor social e cega ante o compromisso político.


4 – A natureza está fora de nós.

Em seus 10 mandamentos, Deus esqueceu-se de mencionar a natureza. Entre as órdens que nos enviou do Monte Sinai, o Senhor poderia ter acrescentado, por exemplo: “Honrarás a natureza, da qual tu és parte.” Mas, isso não lhe ocorreu. Há cinco séculos, quando a América foi aprisionada pelo mercado mundial, a civilização invasora confundiu ecologia com idolatria. A comunhão com a natureza era pecado. E merecia castigo. Segundo as crônicas da Conquista, os índios nômades que usavam cascas para se vestirem jamais esfolavam o tronco inteiro, para não aniquilarem a árvore, e os índios sedentários plantavam cultivos diversos e com períodos de descanso, para não cansarem a terra. A civilização, que vinha impor os devastadores monocultivos de exportação, não podia entender as culturas integradas à natureza, e as confundiu com a vocação demoníaca ou com a ignorância. Para a civilização que diz ser ocidental e cristã, a natureza era uma besta feroz que tinha que ser domada e castigada para que funcionasse como uma máquina, posta a nosso serviço desde sempre e para sempre. A natureza, que era eterna, nos devia escravidão. Muito recentemente, inteiramo-nos de que a natureza se cansa, como nós, seus filhos, e sabemos que, tal como nós, pode morrer assassinada. Já não se fala de submeter a natureza. Agora, até os seus verdugos dizem que é necessário protegê-la. Mas, num ou noutro caso, natureza submetida e natureza protegida, ela está fora de nós. A civilização, que confunde os relógios com o tempo, o crescimento com o desenvolvimento, e o grandalhão com a grandeza, também confunde a natureza com a paisagem, enquanto o mundo, labirinto sem centro, dedica-se a romper seu próprio céu.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SERRA DO GANDARELA, SALVEM ENQUANTO É TEMPO.


O Movimento pela preservação da Serra do Gandarela lança campanha pela preservação desse lugar de grande importância natural e rara beleza.
O MACACA, ao lado do Instituto Guaicuy, Biotrópicos, Arca Amaserra, ONG Leão, Coletivo Jovem Meio Ambiente, Conlutas, Articulação do São Francisco, Instituto Pro-Cittá, Movimento Serras e Águas de Minas, Projeto Manuelzão e muitos outros, está nesta luta.

Participe: movimentogandarela@gmail.com
(31) 3409-9818