quinta-feira, 22 de março de 2012

Dia Mundial da Água - Caeté

Os especialistas do Fórum Mundial das Águas, realizado em março na França, apontam que a escassez de água no mundo podem aumentar os conflitos em torno do precioso bem, já prevendo um aumento na demanda mundial de 55% até 2050, o que podemos considerar um prazo relativamente curto. Caeté ainda não acordou para o fato que a água que dispõe para uso e consumo e somente a que nasce e banha o seu território, justamente pelo município se localizar junto à parte do Espinhaço onde nascem alguns cursos d’água do alto Rio das Velhas. A cena cotidiana de pessoas “varrendo” seus passeios com água tratada, que jorra abundante de mangueiras enquanto mal chega às partes mais altas da cidade, sem uma penalização ou sanção à esse péssimo hábito . As nascentes no meio urbano e entorno também estão ameaçadas pelo boom do setor imobiliário, que se expande também na zona rural, muitas vezes sem controle dos órgãos responsáveis pelo planejamento e fiscalização. As políticas públicas locais para o setor inexistem e mudam de acordo com a situação, todas as Áreas de Proteção Ambiental criadas para preservação dos mananciais ficaram somente no papel pois, até hoje, não existe Conselho Gestor das mesmas e no momento pensa-se em substituir a preservação de mananciais de superfície, que abastecem por gravidade por poços subterrâneos, que consomem energia elétrica e que não estão livres de contaminação (grande parte da água subterrânea dos Estados Unidos está contaminada).

Analisand0-se a situação das águas do município por bacias, temos:

A bacia do Ribeirão Caeté-Sabará é a mais comprometida, pelo desmatamento de suas margens, pela atividade minerária a montante de seus tributários e pela descarga de esgoto, efluentes e lixo no meio urbano. A paralisação da construção da estação de tratamento de esgotos, obra que ainda suscita dúvidas quanto a valores, estrutura e á efetividade do sistema, causou frustração aos que queriam ver o rio com águas mais limpas, o que pode demorar pois até o momento não se efetivou a retomada das obras. Outro problema grave dessa bacia é o risco que corre o manancial de Morro Vermelho, o Córrego Santo Antônio, pois um projeto de lavra da Jaguar Mining (MSol) ameaça suas nascentes, caso que pede a intervenção do Ministério Público para salvaguardar os interesses coletivos. Na mesma bacia, no bairro Quintas da Serra, o conflito em torno da água segue sem solução, dividindo grupos que controlam poços e outros que disputam as nascentes da vertente sul da Serra da Piedade, isso sem que sem que uma efetiva regulamentação do setor público se imponha.

A bacia do Ribeiro Bonito, onde se localiza a maior captação para abastecimento público, tem problemas com risco de carreamento de defensivos da Horticultura, expressiva na região, resíduos da agrosilvicultura, esgoto doméstico de Rancho Novo e desmatamento como maiores problemas. A Penha, hoje muito populosa, não tem água tratada, pois a Estação de Tratamento de Água, localiza-se abaixo, na sede do município, o que representa, em conjunto com a falta de rede coletora de esgotos, um caso de saúde pública. A captação do Descoberto, água enquadrada como especial, melhora a qualidade das águas captadas no Ribeiro Bonito, mas só atende pequena parte do distrito.

Finalmente a Bacia do Ribeirão da Prata, com águas abundantes e de qualidade corre risco com o Projeto Apolo da Vale. Essa bacia é altamente estratégica para o abastecimento público futuro, não só para Caeté, como para parte da Região Metropolitana e talvez a proposta do Parque Nacional na região possa salvaguardá-las, caso se efetive. A anuência dada pelo município e SAAE para o licenciamento, sem audiência pública e discussões mais amplas, é, no mínimo, irresponsável, pois a bacia do Prata é também de interesse de municípios como Raposos e Belo Horizonte.

Percebe-se que a situação das águas em Caeté não é tão tranquila como muitos querem fazer crer, repetimos, só dispomos da água que nasce em nosso município e temos todos que pensar seriamente sobre isso, com risco de termos que buscar água muito distante e pagar caro por essa imprevidência, Itabira é o melhor exemplo disso.
Vamos lutar por nossas águas, bem comum, precioso (não mercadoria) e não deixar que falsos discursos nos iludam.

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