Fotos: Macaca
A audiência pública em Sabará,
realizada no dia 31 de outubro pela SUPRAM para expor o licenciamento da
recuperação da área degradada pela mineração na Serra da Piedade a ser feita
pela AVG, sucessora da Brumafer, resultado do acordo judicial na ação civil
pública que paralisou as atividades em janeiro de 2006 e que deveria ser a
penalidade por um crime ambiental ministrado à vista de todos contra a Serra da
Piedade, sede da Padroeira de Minas Gerais e Patrimônio Tombado em níveis
municipal, estadual e federal, ou seja, a recuperação da área degradada, se transforma num consenso, cuja proposta é
minerar para recuperar dentro de um licenciamento de Classe 5 (grande potencial
poluidor e degradador) para lavra com tratamento a úmido, pilhas de rejeito e
estéril, 12 km de estradas para transporte de minério e unidade de tratamento
de minério.
Ela trouxe à luz vários aspectos
das relações de poder e dinheiro que envolvem o setor minerário em nosso
Estado, que interferem até em decisões do que deveria ser a justiça, apesar do
empenho dos autores da ação - MPMG, MPF e IPHAN – ao longo dos seis anos em que
a ação tramitou. O que deveria ser a penalidade por um crime ambiental cometido
pela Brumafer contra a Serra da Piedade e a exigência da recuperação da área
sem nenhum outro impacto, se transformou em um acordo em que se admite o crime
cometido, absurdamente sem punições e se propõe voltar a minerar para recuperar e fechar a mina. Um crime
cometido à vista de todos, com o apoio de setores e cidadãos de Caeté como a
ACIAC e o ex-prefeito Ademir de Carvalho, além da conivência ou omissão dos
órgãos que deveriam zelar para que não fosse cometido,
O projeto da AVG prevê 15 anos de
“recuperação” com mineração e aproveitamento econômico, na área que foi
degradada pela Brumafer num período de oito anos de lavra predatória, sem nenhum critério
técnico, como o representante da própria AVG afirmou. Mesmo que uma das diversas
cláusulas do acordo seja manter intacta a linha de cumeada da Serra da Piedade,
haverá graves impactos para a área do entorno e sobre a fauna, flora, cavernas
e nascentes das vertentes da Serra da Piedade (tanto em Caeté como em Sabará),
o próprio Santuário, as comunidades de Quintas da Serra, Condomínio dos Cedros
e Ravena, principalmente devido à poeira, interferência no solo e transito de
caminhões.
Segundo o representante do
Sindiextra, D. Walmor, arcebispo de Belo Horizonte, foi elemento fundamental para que
este acordo fosse selado, no qual estão diversas “medidas compensatórias”,
entre as quais R$ 2.milhões de reais para “sinalizar” o Santuário de N. Sra. da
Piedade. Perguntamos: como é possível a Arquidiocese apoiar este acordo, depois
de 50 anos de atuação de Frei Rosário para proteger a Serra da Piedade contra a
mineração e de seis anos de coerência e coragem de muitos padres, paróquias,
comunidades católicas e da Reitoria do Santuário no período de 2001 a 2007 na sua
defesa contra as pretensões da mineração?
Foi curioso que, mesmo a
audiência pública sendo realizada em Sabará, sendo que o Macaca foi a única
entidade que tentou trazê-la para Caeté, os mesmos setores e cidadãos de nossa cidade que defendiam a continuidade do crime ambiental cometido pela Brumafer estavam
presentes em peso e mais uma vez aplaudiram a chegada da mineração na Serra da
Piedade, desta vez a AVG, com faixas, falas e muitas palmas a favor do
empreendimento.
Para nós do MACACA, uma das
entidades que faz parte do SOS Serra da Piedade, não faz o menor sentido
retomar a atividade minerária na Serra da Piedade, Monumento Natural de Minas
Gerais e Patrimônio Cultural, Paisagístico e Religioso do povo mineiro, mesmo
com a proposta de recuperar o passivo. Acreditamos que existem outras
possibilidades a partir de modernas tecnologias dentro da engenharia associada
à arquitetura, paisagismo e biotecnologia, responsáveis no Brasil e no mundo
por obras de contenção e recuperação muito mais complexas do que o
passivo na Serra da Piedade. Mas as relações de poder e dinheiro que envolvem o
setor minerário boicotaram essa possibilidade para alcançar seus objetivos.
Diante deste quadro, estamos de
volta na defesa da Serra da Piedade e convocamos todos vocês que participaram
intensamente do SOS Serra da Piedade (2001 a 2006) e todos de forma geral a
somar a mais esta luta contra a voracidade da atividade de mineração, que não
abre mão nem de um dos maiores ícones da nossa história, cultura, religiosidade
e paisagem.