Caeté – vocação e risco de desabastecimento.
Em Caeté experimentamos uma situação no mínimo contraditória por
nossa posição geográfica. O nosso município tem nas montanhas que fazem divisas
com Sabará (Serra da Piedade); com Raposos, Barão e Santa Bárbara (Serra do
Gandarela) grandes jazidas de minério de ferro.
Porém lá também se localizam os únicos mananciais de captação de água
para abastecimento de nossa população.
Se por um lado Caeté é rica em
minério de ferro, produto que está no topo da balança comercial brasileira e
que perde apenas para a soja, por outro lado, devido à posição geográfica
(médio-alto da Bacia do Rio das Velhas) é pobre em recursos hídricos e não
recebe água de nenhum município vizinho para seu consumo. Só contamos com três mananciais
de água para abastecimento da população: Ribeiro Bonito, Córrego do Jacu e Córrego Santo Antônio.
O Ribeiro Bonito fornece a água mais cara para o município por
necessitar de forte tratamento para o consumo. Isso é devido a sua bacia
hidrográfica ser bastante degradada, agredida que é pelo esgoto de Rancho Novo, de sítios vizinhos; e também por assoreamento e contaminação por agrotóxicos proveniente da
prática da monocultura de eucalipto e horticultura ao longo de seu curso. Essa situação inclusive levou o
SAAE de Caeté a propor a criação da APA Ribeiro Bonito numa tentativa de, nos
próximos anos, salvar aquela importante bacia hidrográfica que fornece 60% da
água consumida em Caeté. Em tempo de chuva esse percentual cai para 30% devido
à dificuldade de tratamento com a queda da qualidade da água, a bacia já foi declarada em ocasião recente área conflito em torno da disputa pelos recursos hídricos.
O Córrego do Jacu, outro importante, manancial tem suas
nascentes na Serra do Gandarela, serra essa que é alvo da atividade mineraria da Jaguar Mining (MSol) e para a implantação da infraestrutura da Mina Apolo da Vale para retirar centenas de toneladas de
minério de ferro por dia e beneficia-lo com a água que hoje é utilizada para
consumo humano de diversas comunidades da região.
Em tempo de chuva, o Córrego Santo Antônio, o terceiro manancial
de Caeté, compensando a diminuição na ETA Ribeiro Bonito nesse período, chega a
fornecer 40% da água consumida em Caeté. Suas nascentes estão na Serra da
Piedade, onde até 2006, o minério da extinta Brumafer era beneficiado com
água, parte retirada do subsolo e parte represada das nascentes sendo uma
características das minas a céu aberto. O fechamento da Brumafer por crime ambiental em
15/01/2006 foi resultado de um processo que levou a Serra da Piedade a ser o
primeiro Patrimônio Natural de Minas a ter seu tombamento regulamentado
permitindo assim ao Ministério Público Estadual acolher nossas denúncias e a ordenar o cesse imediato das agressões
ambientais representadas pela extração mineral que nela ocorria. Só assim, foi
possível garantir, não sabemos por quanto tempo, o abastecimento vindo da
Estação Vila das Flores.
Portanto, nesse Dia Mundial do Meio Ambiente, a contradição está
clara e a desinformação também. Ao vermos uma dona de casa lavar o passeio e a
rua com água corrente e tratada, ou mesmo, nossas autoridades fecharem os olhos
para a agressão ao meio ambiente nas serras de Minas e do Brasil nos perguntamos:
será que daqui a 20 anos isso será possível? Os lucros e dividendos da extração
mineral, desde os tempos do ciclo do ouro no passado, seguem a lógica do
sistema e não ficam aqui. Portanto, nós optamos pelo abastecimento de água e
pela preservação desses bens. Um debate sobre a segurança hídrica do município tem que ser aberto o quanto mais breve, aproveitando-se o atual momento no qual as condições políticas se mostram mais favoráveis, com uma Câmara renovada, com um novo governo e, espera-se, com a participação mais ativa da sociedade. Estamos fazendo a nossa parte. E você? Feliz dia Mundial do Meio Ambiente.
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