O jornal Opinião trouxe semana
passada a notícia que o prefeito eleito, Zezé Oliveira, procurou a Vale para
levar o apoio do seu futuro governo ao Projeto Apolo de exploração mineral da empresa na Serra do
Gandarela. Boatos pré-eleitorais já davam
conta que Zezé Oliveira teria sido um dos primeiros candidatos a procurar a
Vale em busca de apoio para a sua candidatura e o fato, se confirmada a
veracidade dos rumores, configura-se simplesmente como uma troca de favores,
com todas as implicações que isso possa trazer, haja vista a influência das
grandes empresas, como a Vale, nas esferas governamentais e a recorrente subserviência do Estado em suas relações com as corporações. Quando se poderia
pensar que um novo governo municipal colocaria a questão do projeto Apolo em
outro patamar, constata-se o continuísmo da política do governo que sai e que
não deixa saudades, já que tratou a questão ambiental sob uma ótica míope e
descolada da urgência que se apresenta á realidade do mundo atual. Parece que a
construção ideológica da mineração como única redenção do município executada
pelo governo Ademir de Carvalho em seus dois mandatos, desprezando outras alternativas
e a capacidade do caeteense em abrir caminhos (o fechamento da Barbará é um
exemplo) contaminou o pensamento estreito de nossos políticos, que não
vislumbram nenhum futuro fora disso. A
mineração configura-se como uma atividade arcaica, mesmo travestida de
atributos de modernidade, até mesmo os engenhos de açúcar do Brasil colônia, resguardados
tempo e espaço, eram mais avançados tecnologicamente do que uma atividade que
se restringe a arrancar produtos naturais do solo e exportá-los sem agregar
valor, isso à custa de gigantescos impactos e degradação socioambiental. Reconhecemos
que o prefeito recém-eleito já caminhou com o movimento ambiental de forma
muito significativa na defesa da Serra da Piedade, mas inexplicavelmente se afastou
do diálogo com esse setor e a tônica geral da campanha, que se repetiu com os
outros candidatos, era de que o discurso em torno do meio ambiente tirava
votos, demonstrando o nível de atraso e ignorância que permeia a nossa
sociedade dominada por oligarquias caducas com representantes em diversos setores que, volta e meia, levantam
vozes iradas contra o movimento
ambiental e seus defensores, alcunhando-o
de forma pejorativa como “forasteiros” ou os que são “contra o progresso”. A
propósito , qual progresso cara-pálida? Nossa sociedade precisa avançar e
romper com conceitos e preconceitos que já não cabem no mundo que vivemos, a questão ambiental é mais do que urgente e
as consequências do modelo econômico no qual estamos inseridos ameaça a sobrevivência do ser humano e de outras
formas de vida e seria ingênuo pensar que Caeté e o Gandarela estão fora
disso. O Gandarela se apresenta como
outra possibilidade para Caeté e região, com toda a sua riqueza e multiplicidade
de alternativas naturais, econômicas e sociais que abriga em suas
dimensões e ignorar tudo isso, sem ao
menos tentar conhecê-las através dos que a defendem, revela mais uma vez, o
equívoco de nossos governantes que movidos pelo imediatismo e projetos de poder
restringem o futuro e os horizontes de uma cidade e seu povo. Além disso, o
Gandarela, por seus atributos hídricos e biodiversos, é de extrema importância para
a região metropolitana de Belo Horizonte e Caeté não pode decidir por milhões de
habitantes ou mais claramente, o interesse coletivo não pode ser sobreposto
pelo interesse privado de uma única empresa e seus acionistas.
Acreditamos sinceramente que
podemos avançar com o novo governo municipal em muitas discussões importantes para
o nosso município, como por exemplo, a recuperação do papel dos Conselhos Municipais
e os novos rumos das políticas ambientais e culturais de Caeté. O Macaca sempre se colocou na vanguarda a
serviço da sociedade e do bem comum, com firmeza e coerência de propósitos e o reconhecimento de muitos nos levam a seguir
adiante, ainda mais nesse momento de mudanças tão
necessárias e urgentes. A possibilidade de uma fase de relações respeitosas, honestas e democráticas com o novo governo se abre.
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