sexta-feira, 30 de abril de 2010

Serra do Gandarela no Opinião - Reportagem na íntegra

Reproduzimos abaixo, na íntegra, reportagem do Jornal Opinião sobre o Viva Gandarela:


29 de Abril de 2010

Ato simbólico pede a preservação da Serra da Gandarela
Movimento ambiental pede a criação de um parque nacional para a preservação da região

Gustavo Pinheiro
Integrantes do Projeto Manuelzão e do Movimento de Preservação da Serra da Gandarela realizaram sábado um ato simbólico de abraço em defesa da Serra da Gandarela, localizada entre Barão, Caeté, Santa Bárbara, Rio Acima, Raposos e Itabirito. O objetivo foi o de sensibilizar a população para a importância de se proteger o último reduto ambiental da área do quadrilátero ferrífero. A ação reuniu estudantes, pesquisadores e defensores da preservação de várias regiões da Grande BH.
A Serra da Gandarela é o último reduto ambiental da região metropolitana de Belo Horizonte e da APA Sul. Nela são encontradas biomas como Mata Atlântica, Cerrado e ainda a vegetação de canga. A serra é ainda um grande reservatório natural de águas, possuindo água de alta qualidade, que dispensa o tratamento prévio. A região é rica em cachoeiras, lagos, sítios históricos e paleoambientais. A Serra mantém a maior área de cangas preservadas de Minas Gerais. Nesse ambiente, habitam espécies vegetais e animais raros. Mais de 100 cavernas já foram registradas, sendo algumas delas caracterizadas como de máxima relevância para preservação.
Não apenas membros de movimentos ambientais estão engajados na preservação da Serra da Gandarela, mas muitas outras pessoas foram conquistadas pelas características fantásticas da região. “Temos aqui um patrimônio que está acima do deus mercado. São espaços e bens assim que mostram o verdadeiro valor de um povo. Um espaço e uma paisagem que articula sítios históricos, que preserva a natureza peculiar a uma região pouco conhecida e que, infelizmente, ficou cercada de lugares importantes desfigurados. De outro modo, e para sermos mais pontuais com a nossa sobrevivência, é nela que nascem alguns dos cursos de água mais importantes para o abastecimento público de várias cidades e da região metropolitana”, avalia o jornalista Gustavo Tostes Gazzinelli, um dos líderes do movimento que pede a criação do Parque Nacional das Águas do Gandarela.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão federal responsável pela criação de unidades de conservação, recebeu a proposta de criação naquela região do Parque Nacional Águas do Gandarela e já sinalizou que a região tem os atributos indispensáveis para sua criação.

ENTREVISTA COM JORNALISTA GUSTAVO TOSTES GAZZINELLI

OPN: A Serra da Gandarela é o último reduto ambiental da região metropolitana de Belo Horizonte e da APA Sul. É rica em cachoeiras, sítios históricos, paleoambientais e hídricos. Como você avalia a potencialidade desta região?
Estivemos lá neste sábado, no Viva Gandarela. Fiquei ainda mais perplexo com o potencial ambiental deste lugar. É como se fosse uma ilha de preservação, biodiversidade e água, a poucos quilômetros de uma região metropolitana que em poucos anos terá dez milhões de habitantes. Integrada ao Caraça, a Serra do Gandarela será possivelmente a reserva natural mais importante de toda a região Leste do Brasil. Ninguém imagina o quanto isso poderá agregar ao potencial econômico e à qualidade de vida de nossa região, sem falar da autoestima dos seus habitantes, habituados a só acharem belo o que está fora, ou a conviver com as crateras minerárias que se vão multiplicando a torto e a direito. Precisamos de motivos como este para nos orgulharmos.

OPN: Qual a importância de se manter preservada a Serra?
Primeiro, termos um lugar em que possamos dizer: aqui a ganância não adentrou. Temos aqui um patrimônio que está acima do deus mercado. São espaços e bens assim que mostram o verdadeiro valor de um povo. Um espaço e uma paisagem que articula sítios históricos, que preserva a natureza peculiar a uma região pouco conhecida e que, infelizmente, ficou cercada de lugares importantes desfigurados. De outro modo, e para sermos mais pontuais com a nossa sobrevivência, é nela que nascem alguns dos cursos de água mais importantes para o abastecimento público de várias cidades e da região metropolitana. E são águas que em boa parte poderiam ser engarrafadas e vendidas para consumo humano, tal a sua qualidade. É uma pena que nossas lideranças e autoridades públicas fiquem sentadas aguardando a primeira oferta para destruição desse manancial e oásis, para trazer resultados econômicos de curto prazo e destruir a galinha dos ovos de ouro para sempre. Afinal qual o investimento efetivo que estas autoridades têm feito para potencializar o uso turístico e a criação de royalties da produção de água que verte da Serra do Gandarela? Creio que nada! Se habituaram à cultura perversa do extrativismo irreversível. Não semeiam, não plantam e não colhem valores. Não cultivam esperanças, não constroem perspectivas duradouras. Se habituaram ao paternalismo de uma grande empresa, como se não tivessem nada a desenvolver. É triste, é patético.

OPN:A criação do parque nacional garantirá a preservação da área?
Certamente, a criação do Parque Nacional, o primeiro e mais importante no bioma Mata Atlântica, associado a campos rupestres sobre cangas ferruginosas e quartzíticas - a cara da nossa região -, será um importante fator para preservar a área, mas as garantias também dependerão da construção de uma ordem moral mais sólida, menos volátil, de políticos e de uma sociedade que não se vendam, que não aceitem projetos de curto prazo que serão a danação das gerações futuras - e da volta do transporte ferroviário para esta região, disciplinando e dando valor ao uso e à sua fruição territorial. Além do Caraça e da Serra da Piedade, há potencial para novos centros de espiritualidade em lugares como a Serra do Gandarela, e para a estruturação de um centro de pesquisa internacional, do qual possam fluir pólos de alta tecnologia nos municípios que se beneficiarão deste santuário natural. Só não vê quem não quer e não se informa. Tenho a sensação às vezes que estarmos regredindo, quando poderíamos ser modelo de uma nova perspectiva de desenvolvimento..

OPN: Como está o processo de criação do parque nacional? O movimento ambiental está confiante de que o parque será criado?
A Serra do Gandarela é tão importante, que dezenas de movimentos e entidades já se somaram ao projeto de sua preservação. Durante as audiências públicas para debater a mina que a Vale quer ali colocar, temos recebido grande apoio. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão federal responsável pela criação de unidades de conservação, recebeu a proposta e já sinalizou que a região tem os atributos indispensáveis para a criação de um parque nacional. Sabemos que há um processo administrativo instaurado, que a proposta está avançada, tendo já ocorrido vistorias técnicas na maior parte da área e que o parque terá grande apoio popular. Parece que as pessoas já conhecem as marcas e a paisagem que a mineração deixa, por onde vai passando. Então percebemos que a criação do parque nacional será vitoriosa - porque a defesa da água e o acúmulo de impactos de várias minas em operação, a maioria das quais pertencentes à Vale, sinaliza que devemos ter salvaguardas, preservar o pouco mas ainda muito significativo que nos restou, e este é o caso único da Serra do Gandarela, que, em conexão com o Caraça, é o território mais significativo ainda preservado da região central de Minas Gerais. A força do Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela só tem aumentado. Temos ouvido de técnicos do governo estadual que a condição ecológica da Serra do Gandarela não encontra precedentes em nossa região. Deixá-la acabar seria um crime jamais esquecido e, graças a Deus, muitos querem preservar sua honra e memória.

OPN: Qual a representação do evento que aconteceu no último sábado?
O 1º Viva Gandarela surpreendeu-nos pela participação e pela presença de comunidades e representantes de vários municípios relacionados à defesa da Serra do Gandarela, como Caeté, Santa Bárbara, Raposos e Rio Acima, além da presença de entidades e pessoas de Belo Horizonte e de Minas Gerais, como o Projeto Manuelzão e o Sindágua. A visita serviu para confirmar a importância e a complexidade de ambientes que compõem a Serra do Gandarelar - isto ficou registrado nos olhos dos que lá estiveram. Por outro lado, percebemos que a composição do movimento vai se adensando, e que ultrapassa a centralidade inicial do processo de mobilização. Somos muitos agora.

Fonte: http://www.opiniaocaete.com.br/

Um comentário:

Patrícia Urias disse...

Excelente a entrevista dada pelo Gustavo Gazzinelli ao Jornal Opinião. Espero que a comunidade e as autoridades leiam e se sensibilizem sobre a necessidade de se criar urgente o Parque Nacional Serra do Gandarela. É interessante perceber que esta não é a vontade de um grupo pequeno e sim de vários grupos conscientes e sabedores que somente assim será resguardado aquele santuário da ganância mineratória.
Vamos seguir em frente juntos neste grande ideal de contrução de uma unidade de conservação ambiental e parafraseando o Gustavo SOMOS MUITOS AGORA neste intento.