O
Movimento Artístico Cultural e Ambiental
de Caeté, o Macaca, está comemorando
15 anos de existência. Nesse período foram muitas realizações desde a sua
fundação no já longínquo ano de 1999 que possibilitaram à entidade a se firmar
e a se legitimar nos seus campos de atuação em Caeté e em Minas Gerais. O Macaca foi criado por pessoas que atuavam de forma individual ou em
grupos informais em Caeté e que perceberam a partir de um vazio na sociedade
local a necessidade de uma entidade que
se norteasse por demandas nos setores ambiental, artístico e cultural,
especialmente o primeiro. Como uma dos
objetivos traçados para o Macaca seria o de atuar na organização da sociedade
civil, o município passava por um momento difícil, resultado do vazio deixado
por uma crise econômica com graves consequências sociais devido ao fechamento
da indústria que havia sido a base de sustentação econômica da cidade por
décadas. A primeira ação nesse sentido foi participar de forma atuante na
criação do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), cujo formato foi
considerado à época como um dos mais avançados e democráticos do país, pois não era controlado pelo poder público
como era de praxe e a eleição da diretoria se dava entre os seus membros, algo
inédito, pois regra geral era a presidência nas mãos do secretário de meio
ambiente. O Macaca assumiu a presidência
do Codema em um momento importante, pois com o fim do ciclo siderúrgico um novo
ator tentava ocupar o espaço na economia local com uma proposta que ameaçava o
maior patrimônio do lugar e um dos maiores de Minas Gerais: a Serra da Piedade.
A eclosão do movimento S.O.S. Serra da Piedade, no qual o Macaca se inseria,
contra a ameaça de ampliação da mineração para o território de Caeté, foi um marco na luta ambiental do Estado,
pois ao final dos cinco anos de conflito pela primeira vez na história de Minas
uma mineradora tinha suas atividades paralisadas por força da mobilização
popular. É importante ressaltar que o movimento de preservação da Serra da
Piedade tinha a simpatia e apoio da população, mas por outro lado o setor
minerário aglutinou em torno de seu projeto as elites políticas e econômicas
locais que, com raras exceções, movidas por interesses diversos, empreenderam
uma intensa campanha contra o S.O.S. Serra da Piedade e suas principais
lideranças. Câmara, governo, imprensa e especialmente a Associação Comercial se
uniram em um discurso que colocava o movimento ambiental como inimigos do
progresso e seus membros como “forasteiros”, palavra com sentido depreciativo,
utilizada à época da colônia pelos senhores da região das minas para alcunhar
os recém-chegados atraídos pelo ouro, termo resgatado das profundezas do
inconsciente coletivo enraizado no conflito da Guerra dos Emboabas da qual
Caeté foi um dos principais palcos. Esse discurso encontrou eco em diversos
setores da sociedade que destituídos de consciência ambiental, consciência de
classe e capacidade crítica ainda hoje acreditam que os ambientalistas são
contra o progresso. Mas qual progresso e a que preço? Finda a questão da Serra da Piedade, ainda que
os danos ao patrimônio e ao meio ambiente não fossem reparados e os
responsáveis e seus apoiadores responsabilizados criminalmente, o Macaca
percebeu que a luta havia se ampliado para além das fronteiras de Caeté e
tomado dimensões nunca imaginadas. Atuando na esfera local nos conselhos e na
criação de eventos como o Museu do Carnaval, embrião do resgate do carnaval de
rua da cidade, que resultou no sucesso do Carnacatu, Memorial do Futebol e
ações de preservação na APA Pedra Branca dentre outras, percebeu que somente
plantar árvores, ainda que necessário e importantíssimo, haja vista o plantio na
APA citada e em outros locais, não mudaria a realidade de forma geral, pois a
questão era estrutural, enraizada profundamente no modelo de exploração
econômica do homem e da natureza, ampliado pelo receituário neoliberal de um
capitalismo em crise. Pensar globalmente e agir globalmente, contrariando antiga
palavra de ordem reducionista, era o que iniciava a se desenhar como princípio
para os movimentos socioambientais da época em uma realidade de mercados e
relações mundializadas que se aceleravam e utilizavam as plataformas fluídas do
meio técnico-científico-informacional.
A
articulação para a criação de uma frente de movimentos e organizações para
enfrentar coletivamente a grave questão ambiental do Estado foi proposta do
Macaca que graças a visibilidade do sucesso no embate da Serra da Piedade e a
convergência de ideários de grupos e pessoas
que se juntaram ou eram simpáticas à luta, reuniu no alto da própria
serra, que agregou à sua diversidade simbólica a dimensão ambiental,
representações de grande parte do Estado que criaram o Movimento Serra e Águas
de Minas (MovSam). Essa ampla frente surgiu para aliar ativismo com ação
política e romper com a relação promíscua entre grandes Ongs, com seu
ambientalismo de resultados, Estado e corporações que dominavam o campo
ambiental e que traziam, com seus acordos, graves prejuízos ao meio ambiente e
sociedade.
Em
meados de 2009 surgia a questão Gandarela com o pedido da Vale para o seu
Projeto Apolo e mais uma vez o Macaca se posicionou contra e, mais uma vez, se
repetiram as práticas das oligarquias locais como no caso Serra da Piedade,
comprovando que as mudanças na sociedade são muito lentas, ainda mais em um
meio onde o conservadorismo é arraigado, mesmo que a cidade se localize a
poucos quilômetros de Belo Horizonte, uma grande metrópole nacional. Como o
adversário dessa vez era muitas vezes mais poderoso do que a Brumafer da Serra
da Piedade, mas levando-se em conta que ambas faziam ou fazem parte do complexo
minero-siderúrgico que possui grande poder econômico e ampla capacidade de
articulação e influência, especialmente no meio político, criou-se uma frente
específica de luta à partir do MovSam, o Movimento de Preservação da Serra do
Gandarela do qual o Macaca participa em conjunto com organizações e
coletividades da região atingida. A criação do Parque Nacional da Serra do
Gandarela recentemente não encerrou a luta, pois áreas importantíssimas sob o
ponto de vista da preservação de geossistemas e do aquífero associado à esses,
levando-se em conta a grave crise hídrica que se apresenta na atualidade, foram
cedidas à empresa Vale que exerceu forte pressão sobre os governos e que visando
somente o lucro de seus acionistas pode prejudicar irremediavelmente grande
parte da população da região metropolitana que depende da água da região agora
e para o futuro.
Na
esteira de realizações o Macaca, que tem como um dos eixos fundamentais a
preservação do patrimônio e estímulo à cultura está produzindo o documentário
“Batuque, com cheiro de Alecrim do Campo e Umbigadas”, financiado pelo Fundo Estadual de Defesa de Direitos
Difusos (Fundif) e que visa registrar e resgatar essa quase esquecida
manifestação cultural de Morro Vermelho e com produção em fase adiantada será
um presente da entidade para Caeté.
O Macaca continua exercendo o seu papel, apesar
de todas as dificuldades que se colocam no caminho, mas sempre coerente com os
seus princípios que angariaram o respeito de muitos dentro da cidade e além,
exceto daqueles que ainda não compreenderam a mudança dos tempos e a nova
direção dos ventos.
Sonhando e construindo concretamente as
utopias, o Macaca prossegue.
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