PARTE 1
No início de dezembro de 2011 tomamos conhecimento do chamado “Instituto Gandarela”, com uma marca com design meio abstrato em tons de vermelho e marrom. Muita curiosidade de todos nós. Será que tem relação com a Serra do Gandarela? Será que foi criado por alguém com esse sobrenome que nem conhece a região? Será que é a Vale?
Pesquisamos no Google. Nada de site ou blog. Localizamos que foi criado
em 12/8/2010 e que, como co-realizador da Mostra BH 2011, o Instituto Gandarela
recebeu dotação orçamentária da Fundação Municipal de Cultura/PBH (R$ 411.556,00), através
do gabinete do Prefeito, e contou com o patrocínio da Petrobras (R$ 100.000,00) e apoio da Arte Brasil Produção
Cultural e da Fundação Nacional das Artes (Funarte), que cedeu quatro galpões
em Belo Horizonte. Naquele momento, percebemos que o instituto recém-criado chegava
com condição para captar recursos
públicos e apoios de porte, estaduais e federais.
Não demorou muito para ter mais informações. No dia 20/12/2011, em
reunião do Grupo de Trabalho criado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente
de Minas Gerais (GT2), do qual participamos, a Vale apresentou seu Programa
Integrado de Gestão Ambiental do Projeto Apolo, pretendido na Serra do Gandarela.
E lá estava, entre os 34 slides, o Instituto Gandarela. Ou era muita coincidência...
Estrategicamente, os representantes da empresa falaram sobre o alcance e perspectivas desse Programa antes de apresentar sua proposta para os limites do Parque Nacional da
Serra do Gandarela. Assim, ficou claro
naquele dia que a Vale escolheu um “pacote” de iniciativas, entre elas o
Instituto Gandarela, que apresentava como contrapartida para “detonar” grande
parte da Unidade de Conservação federal e permitir suas pretensões minerárias
na região.
Redobramos a atenção sobre o Instituto Gandarela. A entrada do site no ar, as matérias na mídia, o contrato com o Shakespeare’s Globe Theatre e a realização de eventos de grupos artísticos mineiros. Assim, tomamos conhecimento sobre quem estava à frente, como co-Fundador e presidente: Mauro Maya, empresário natural da terra de Carlos Drummond de Andrade, Itabira, funcionário da Companhia Vale do Rio Doce por 11 anos, onde também foi promotor de eventos internos da empresa, fundador da Arte Brasil Produção Cultural. Desconhecemos o quanto sabe sobre a questão Preservação da Serra do Gandarela x Vale S.A.
Não vamos entrar no mérito se a cópia de um grande projeto cultural, com
alicerce num ícone do teatro inglês, é o mais adequado em Minas Gerais, com sua
cultura única e forte repertório de movimento de teatro de grupos, e na região
do Gandarela que fica
bem no coração dos Caminhos da Estrada Real
(dos Diamantes e de Sabarabussú), entre vários núcleos históricos significativos do
período do ciclo do ouro com importante
acervo arqueológico, histórico e de manifestações e tradições culturais.
Encontramos trechos
interessantes no site do Instituto Gandarela:
O
Instituto Arte Brasil, consciente de seu papel como agente cultural e formador
de cidadania, buscou meios de criar ali o Complexo
Cultural Gandarela, que englobará diversificadas áreas do saber e do fazer.
Com tal objetivo, fez parceria com a
VALE, que lhe passou, em regime de comodato por vinte (20) anos, um terreno
de vinte mil (20.000) metros quadrados onde serão implantados teatros, arena
para circo, salas para oficinas de treinamento profissional e artístico,
espaços para trabalho de preservação ambiental, conforme explicitado no projeto
de construção do referido Complexo.
Justificativa
Consciente de sua responsabilidade para com seus concidadãos, e das possibilidades
de reunião, na região de Rio Acima, dada sua localização próxima a Belo
Horizonte, às cidades históricas, e a três Universidades Federais (UFMG, UFOP,
UFV), a Arte Brasil, de mãos dadas com a
VALE, não tem dúvida de que, uma vez implantado, este projeto renderá
resultados muito positivos, já a curto prazo.
Os pontos
fundamentais para o cumprimento desse objetivo são: Criar um viveiro de
mudas aberto à visitação. Este viveiro conterá mudas de plantas características
da Serra do Gandarela, com a correta identificação das espécies, a fim de
preservar os espécimes da região, permitir
a restauração da vegetação típica após a atividade mineradora e mostrar
para a população a diversidade de plantas presentes em nossa região.
(Retirado
do site do Instituto Gandarela em 26/2/2013)
Mas o mais
inacreditável é que, com objetivos nas
áreas ambiental, cultural, artística, educativa, turística e de geração de
renda, o Instituto Gandarela EM NENHUM
MOMENTO MENCIONA O PARQUE NACIONAL DA SERRA DO GANDARELA que, pela relevância de seus
inúmeros atributos, por si só já é um
grandioso complexo natural e cultural com todas essas perspectivas, inclusive a
nível internacional.
Assim, neste momento e até que os próximos meses nos tragam novas
informações, entendemos que o Instituto Gandarela veio para consolidar as
ações da Vale no sentido de alterar os limites do Parque Nacional da Serra do
Gandarela, por pressão direta junto ao Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade, ao Ministério do Meio Ambiente e demais entes
envolvidos na criação dessa importante Unidade de Conservação. Mas pressupomos que deve ser sem o
conhecimento de parte dos envolvidos, das entidades parceiras e dos apoiadores.
Sendo
assim, trazem para a sociedade, inicialmente de Rio Acima, onde estão previstos os maiores impactos
sociais oriundos da atividade de mineração, o Complexo Cultural Gandarela, e
outras iniciativas, como moeda-de-troca pelos gigantescos impactos regionais da
Mina Apolo sobre o último santuário de porte e ainda preservado da Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Provavelmente,
a Vale surgirá como benfeitora, encobrindo sua ambição desmedida que insiste em
destruir definitivamente a Serra do Gandarela e a proposta do Parque Nacional e
o que significam para a vida de todos nós hoje e dos que virão no futuro, em
uma região metropolitana com mais de cinco milhões de habitantes. PORQUE SEM
ÁGUA E BIODIVERSIDADE NÃO HÁ VIDA.
Algo nos diz que isso tudo acontece através de uma ampla articulação da
Vale e seus aliados, numa intrincada “rede de influências”. O futuro dirá qual
é a verdade!
QUEREMOS UM PARQUE
NACIONAL DA SERRA DO GANDARELA DIGNO
E SEM CONCESSÕES À
INTRANSIGÊNCIA DA VALE
JUNTE-SE
A NÓS! DIVULGUE !
7 comentários:
É UMA PENA QUE SEJA MONTADO UM INSTITUTO COM O NOME GANDARELA, ATRELADO A CRIAÇÃO DO PARQUE E À PRESERVAÇÃO DA REGIÂO, DE FORMA EXCUSA E DESCONECTADA!
SABE DEUS COM QUE INTENÇÕES....
Infelizmente todos sabemos de pelo menos um dos objetivos do tal "Instituto Gandarela": fazer greenwash, reforçando o discurso vazio da Vale de preocupação ambiental...
A VALE é useira e vezeira nesse aspecto !
É isso ai Dorinha. Empresas tem marqueteiros cujo emprego depende de sua capacidade de serem capazes de presentearem com benesses fixadas em armadilhas. As pessoas aceitarem essas saborosas benesses sem questionar é ser cevado para fins inaceitáveis!
Nada como a informação para abrir os nossos olhos. Parabéns aos que estão de olho! Uma pena vocês não poderem ter a mesma atuação no Norte de Minas.
Os noticiários, a cada dia, mostram mais e mais a sordidez dos envolvidos na propalada proposta de expansão da Mina Apolo - da mineradora Vale - na Serra da Gandarela. Para começo de conversa, trata-se de um aquífero e profissionais, com senso ético, não se prestariam a conceber um projeto de exploração minerária predatória num aquífero. Vivemos tempos de escassez hídrica. Prosseguindo, tem-se verificado as estratégias repugnantes, nojentas, asquerosas dos envolvidos em todo o processo (empresários, políticos, engenheiros, artistas, até profissionais de outras áreas - saúde, educação -): desde as captações de água com manobras para obtenção de outorgas, as infiltrações nas comunidades, os assédios, as espionagens, as tentativas de desmobilização das lideranças que resistem e outras tantas ações que ainda não vieram à luz (mas se pode imaginar pela índole dos envolvidos!) E não há esperança de que o quadro se altere, pois os atores do referido processo são "fichas-sujas", têm uma folha corrida de décadas envolvidos com a mineração e com toda a escória que ela representa, aliás, eles próprios e seus comparsas são a camada mais vil da escória que a mineração produz em Minas Gerais, na Mina Geral!
O que a VALE faz com esse arremedo de projeto que visa engambelar os incautos, nessa forma sórdida de colonialismo que persiste deste os áureos tempos que precisou de um Tiradentes para ter o alcance de uma revolta , uma denúncia, mas que os "silvérios dos reis"levaram o seu quinhão e prejudicou a luta. Hoje a VALE utiliza do recurso do "starturfing", uma ferramenta que é utilizada até a exaustão (COMO FAZEM NA MINERAÇÃO) pelos capangas modernos dessa maldita empresa nas redes sociais, disseminando inverdades sistematicamente, de minuto a minuto, com o pressuposto de que a ideia deles é correta. Mas não é! É marketing somente. Mas temos também nossos parceiros internautas que tentam anular a desonestidade do grupo considerado a 'PIOR EMPRESA DO MUNDO"
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