Foto: Ribeirão da Prata - Gandarela (Robson Oliveira)
A estiagem prolongada é fato, mas
não é a única desculpa para a falta d’água que afeta de forma grave as zonas
urbana e rural do município. Em que pese os já evidentes reflexos das mudanças
climáticas o que se percebe é a ausência de uma gestão mais efetiva dos recursos
hídricos de Caeté. Diversos bairros e povoados de Caeté já estão sendo
atendidos por caminhões-pipa, acontecimento raro no passado que hoje já se
torna comum, deixando a população perplexa e assustada com o momento e também
com o futuro. O SAAE , dentro de suas limitações, vem tentando cumprir o seu
papel, mas esbarra na carência de recursos e principalmente na inexistência de
políticas públicas em torno da água, da qual seria, por ser a autarquia de água
e esgotos, um dos seus principais interessados. Há alguns anos foram criadas
por iniciativa do município diversas APAs cujo objetivo principal seria
garantir a preservação de mananciais e de seus ecossistemas para assegurar o
fornecimento de água aos consumidores do município, mas o que se viu foi a
criação das unidades de conservação em lei e não a efetivação das mesmas na
prática. A lei das APAs prevê a nomeação de um conselho para gestão das mesmas,
mas por falta de vontade política tal órgão nunca foi criado e portanto, a
governança sobre as nossas águas nunca se efetivou, o que reflete na grave
crise hídrica que atravessamos. Quantas nascentes secaram nesse período por
falta de fiscalização sobre o desmatamento? Quantos poços foram abertos sem
autorização? Como está o controle sobre o uso da água nas bacias ocupadas pela
agricultura, estatisticamente a maior consumidora de água? Como está o controle
sobre os processos de expansão imobiliária urbana e rural? Como são dadas
autorizações para projetos de mineração sem levar em conta necessidade de
abastecimento público? Quais são os projetos de recuperação de nascentes e
preservação ambiental? Quais são os projetos de educação ambiental? Quais são
as tecnologias ofertadas á sociedade para economia e reaproveitamento de água? Muitas
perguntas poderiam ser feitas envolvendo a questão da água e do meio ambiente
de forma geral e a maioria não poderia ser respondida, porque não existem
políticas públicas ,consistentes e continuadas, com ações efetivas que pelo
menos minimizassem a crítica situação atual. O Macaca clama no deserto há anos: não temos
nenhuma disponibilidade de água além do que podemos contar porque estamos a
montante da bacia, por isso a necessidade imperiosa de cuidar e preservar esses
recursos priorizando o abastecimento público acima de qualquer outro uso. Quando
o Macaca se posiciona contra o Projeto Apolo da Vale na Serra do Gandarela é
porque sabe que as preciosas águas do lugar, as mais abundantes e de melhor qualidade,
garantirão o abastecimento futuro do município. Essa mesma empresa elaborou
junto com o município um Plano Diretor de Recursos Hídricos e o guarda a sete
chaves como moeda de trocas futuras, não o disponibilizando para a comunidade,
resumindo, a Vale sabe mais sobre a água de Caeté que os próprios caeteenses. A
falta de visão estratégica de governantes movidos pelo imediatismo e pelo canto
de sereia da mineração poderá custar muito caro às coletividades de Caeté e
região. Vai-se o minério e o lucro,
junto, a água e o futuro. A sociedade
organizada precisa cobrar ações dos governos, haja vista exemplos como o de
São Paulo e outros lugares com problemas em relação à escassez de água
destacados pela mídia, com a privatização dissimulada desse bem comum, muitos
governos distribuíram lucros aos acionistas ao invés de investirem na melhoria
do sistema de abastecimento. O recente Plano Municipal de Saneamento Básico, iniciativa da sociedade civil no importante espaço dos comitês de bacias hidrográficas, em alguns dos quais o Macaca ocupa cadeira, representa um avanço, mas tem que ser levado à prática para beneficiar a comunidade de forma ampla . A crise d’água
já está aí e já chegou às nossas portas, ou melhor, às nossas torneiras mais
cedo do que imaginávamos.