Mina de Carajás, da Vale, com ferrovia em primeiro plano. A Serra do Gandarela pode ficar assim.
Na quinta-feira passada, dia 26, foi realizada audiência pública da ferrovia do projeto Apolo da Vale. O público presente foi bem menor do que o da audiência da Mina Apolo, resultado talvez da pouca divulgação do evento ou da falta de interesse de muitos. A audiência, de responsabilidade do IBAMA, tem um formato muito diferente das audiências públicas estaduais, nesta a participação e o tempo de fala dos requerentes é muito maior, mesmo que, tanto numa quanto noutra prevaleça a relação desigual entre o tempo do empreendedor e da sociedade civil, sendo o do primeiro muito maior. Essa desigualdade se amplia quando somado ao tempo do empreendedor, no caso a Vale, acrescentam-se os discursos pró-empresa do poder público, no caso o executivo municipal e a Câmara de vereadores. Chega a ser patética a participação de nossos ilustres representantes, mais parecem funcionários da empresa do que homens com cargos públicos a serviço dos interesses e bem comum. É claro que emprego e renda devem ser de interesse público, mas para isso devem ser observadas muitas outras variáveis, que passam pela preservação das águas e do meio ambiente e por alternativas verdadeiramente sustentáveis, com prazos muito mais longos do que os parcos dezessete anos da Mina Apolo (De acordo com levantamento da Fundação João Pinheiro, em fevereiro de 2010 os empregos diretos da atividade mineradora correspondiam à apenas 1,9% do total de empregos de Minas Gerais).
Mas voltando ao momento de perguntas e respostas da audiência, o movimento ambiental se fez representar pelo MACACA, Movimento de Preservação da Serra do Gandarela, pelo Movimento Serras e Águas de Minas, pela Agenda 21 local e pelo PV de Nova Lima. As perguntas desses representantes focaram a questão dos riscos para os mananciais de abastecimento público não citados nos Estudos de Impacto Ambiental (captações do Jacu e de Morro Vermelho), na precipitação dessa audiência pela simples razão de que o processo da Mina Apolo estar sendo ainda analisado (licencia-se uma ferrovia sem saber se a mina vai ser aprovada), do processo de criação do Parque Nacional Águas do Gandarela estar em estudos dentro do ICMBIO* e dos motivos da Vale deter o controle da maior parte das ferrovias somente para transporte de minério e não para atender também o transporte de passageiros (responsabilidade social só nas propagandas).
As respostas não foram satisfatórias, nem as do IBAMA**, nem as da Vale, e o que se percebia era uma grande preocupação em atender ao cronograma da empresa. resumida na frase do superintendente do IBAMA em Minas Gerais: "nós estamos aqui para licenciar a ferrovia". Ficaram a surpresa e a dúvida, pois até ontem uma audiência pública servia para se apresentar um projeto, colher sugestões, verificar questionamentos e esclarecer dúvidas, para só depois licenciar ou não.
Tudo indica que está se fazendo tudo para atender aos interesses da Vale, atropelando-se processos em andamento e não se respeitando a vontade daqueles que querem a preservação da Serra do Gandarela e de nossas águas.
* Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
** Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Imagem: http://www.brazilia.jor.br/node/1528
Na quinta-feira passada, dia 26, foi realizada audiência pública da ferrovia do projeto Apolo da Vale. O público presente foi bem menor do que o da audiência da Mina Apolo, resultado talvez da pouca divulgação do evento ou da falta de interesse de muitos. A audiência, de responsabilidade do IBAMA, tem um formato muito diferente das audiências públicas estaduais, nesta a participação e o tempo de fala dos requerentes é muito maior, mesmo que, tanto numa quanto noutra prevaleça a relação desigual entre o tempo do empreendedor e da sociedade civil, sendo o do primeiro muito maior. Essa desigualdade se amplia quando somado ao tempo do empreendedor, no caso a Vale, acrescentam-se os discursos pró-empresa do poder público, no caso o executivo municipal e a Câmara de vereadores. Chega a ser patética a participação de nossos ilustres representantes, mais parecem funcionários da empresa do que homens com cargos públicos a serviço dos interesses e bem comum. É claro que emprego e renda devem ser de interesse público, mas para isso devem ser observadas muitas outras variáveis, que passam pela preservação das águas e do meio ambiente e por alternativas verdadeiramente sustentáveis, com prazos muito mais longos do que os parcos dezessete anos da Mina Apolo (De acordo com levantamento da Fundação João Pinheiro, em fevereiro de 2010 os empregos diretos da atividade mineradora correspondiam à apenas 1,9% do total de empregos de Minas Gerais).
Mas voltando ao momento de perguntas e respostas da audiência, o movimento ambiental se fez representar pelo MACACA, Movimento de Preservação da Serra do Gandarela, pelo Movimento Serras e Águas de Minas, pela Agenda 21 local e pelo PV de Nova Lima. As perguntas desses representantes focaram a questão dos riscos para os mananciais de abastecimento público não citados nos Estudos de Impacto Ambiental (captações do Jacu e de Morro Vermelho), na precipitação dessa audiência pela simples razão de que o processo da Mina Apolo estar sendo ainda analisado (licencia-se uma ferrovia sem saber se a mina vai ser aprovada), do processo de criação do Parque Nacional Águas do Gandarela estar em estudos dentro do ICMBIO* e dos motivos da Vale deter o controle da maior parte das ferrovias somente para transporte de minério e não para atender também o transporte de passageiros (responsabilidade social só nas propagandas).
As respostas não foram satisfatórias, nem as do IBAMA**, nem as da Vale, e o que se percebia era uma grande preocupação em atender ao cronograma da empresa. resumida na frase do superintendente do IBAMA em Minas Gerais: "nós estamos aqui para licenciar a ferrovia". Ficaram a surpresa e a dúvida, pois até ontem uma audiência pública servia para se apresentar um projeto, colher sugestões, verificar questionamentos e esclarecer dúvidas, para só depois licenciar ou não.
Tudo indica que está se fazendo tudo para atender aos interesses da Vale, atropelando-se processos em andamento e não se respeitando a vontade daqueles que querem a preservação da Serra do Gandarela e de nossas águas.
* Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
** Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Imagem: http://www.brazilia.jor.br/node/1528