Os moradores que ocupam as margens e leito da antiga ferrovia receberam recentemente este comunicado da prefeitura. É estranha essa preocupação do poder público com as pessoas que por motivos diversos se transferiram para essa região que atravessa grande parte da cidade, desde a desativação do trecho ferroviário em meados dos anos 90, já que diversas administrações e a União, proprietária da faixa de terreno, nunca se tocaram pela sorte das mesmas. O processo de ocupação nunca foi contestado pela União, através da antiga RFFSA, que após a retirada dos trilhos do trecho, nunca reinvidicou a reintegração de posse do imóvel, pois após a privatização das ferrovias pelo governo federal não existia mais interesse em operá-lo e a prefeitura por outro lado argumentava que não podia embargar as construções que se multiplicavam pois a área era de propriedade de terceiros, no caso a própria União. Esse impasse, senão uma omissão, foi percebido pelas pessoas que por necessidade (a cidade vivia tempos de crise pelo fechamento da Barbará) ou por oportunismo tomaram o antigo trecho de ferrovia como território livre ou terra de ninguém. Os problemas quanto à infraestrutura eram diversos, saneamento, água, luz, algumas áreas de risco, etc, mas com o passar dos anos alguns desses problemas foram resolvidos, outros persistem, mas enfim, os moradores se adaptaram à situação e agora podiam usufruir de algumas facilidades que a cidade lhes negava como proximidade com o trabalho, com a escola, com os serviços de saúde e com o comércio diversificado para suprir suas necessidades imediatas. Agora depois de muito tempo recebem esse comunicado que lhes causa grande apreensão, qual o motivo desse súbito interesse em "solucionar" esse "problema" por governantes que nunca se preocuparam com as famílias (os chamados invasores da linha) já discriminadas e segregadas por grande parte da população. Pouco tempo antes do tal comunicado, homens com aparelhos de medição já haviam passado por lá, registrando dados, anotando, fazendo perguntas. Por que? Para quem? Boatos circulam entre os moradores da linha e na cidade, o antigo trecho irá servir a um desses projetos ligados à mineração que têm o município como local de implantação. Um lugar que tinha perdido o valor, abandonado ao seu destino, readquire valor motivado por interesses de coorporações que associados ao poder municipal vem modificar a vida das pessoas. Onde se encaixaria nesse processo os programas como o "minha casa, minha vida" com propostas do governo na Câmara Municipal? Como se articulam-se esses processos que passam distante da maior parte da sociedade mas que têm no centro os interesses de grupos que detêm o poder político e de grupos que detêm o poder econômico. Como ficarão as pessoas da ferrovia dinte de um governo que subitamente se preocupa com o "social"...