terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Forum Social Mundial





O Fórum Social Mundial começou hoje em Belém, na Amazônia Brasileira. Nesta edição estaremos participando através do Movimento Serras e Águas de Minas que enviou representantes para o Seminário Internacional “Alternativas Viáveis aos Abusos da Vale do Rio Doce”, promovido pelo Movimento Justiça nos Trilhos. Os membros do MACACA, juntamente com outras entidades, participaram efetivamente na elaboração do material a ser apresentado no FSM, focando principalmente a questão da mineração e das águas no Quadrilátero Ferrífero. Infelizmente, por motivos diversos, nosso pessoal não vai poder estar presente ao evento, importantíssimo nesse momento de crise ou crises conjugadas, econômica, alimentar e ambiental, mas acreditamos que estaremos sempre contribuindo para a urgente e necessária mudança do mundo.
Um outro mundo é possível.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Os limites do capital são os limites da Terra




Leonardo Boff


Uma semana após o estouro da bolha econômico-financeira, no dia 23 de setembro, ocorreu o assim chamado Earth Overshoot Day , quer dizer, "o dia da ultrapassagem da Terra". Grandes institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração do sistema-Terra. Traduzindo: a humanidade está consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe. O resultado é a manifestação insofismável da insustentabilidade global da Terra e do sistema de produção e consumo imperante. Entramos no vermelho e assim não poderemos continuar porque não temos mais fundos para cobrir nossas dívidas ecológicas. Esta notícia, alarmante e ameaçadora, ganhou apenas algumas linhas na parte internacional dos jornais, ao contrário da outra que até hoje ocupa as manchetes dos meios de comunicação e os principais noticiários de televisão. Lógico, nem poderia ser diferente. O que estrutura as sociedades mundiais, como há muitos anos o analisou Polaniy em seu famoso livro A Grande Transformação, não é nem a política nem a ética e muito menos a ecologia, mas unicamente a economia. Tudo virou mercadoria, inclusive a própria Terra. E a economia submeteu a si a política e mandou para o limbo a ética.Até hoje somos castigados dia a dia a ler mais e mais relatórios e análises da crise econômico-financeira como se somente ela constituisse a realidade realmente existente. Tudo o mais é secundarizado ou silenciado.A discussão dominante se restringe a esta questão: que correções importa fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados? Assim poderíamos continuar as usual a fazer nossos negócios dentro da lógica própria do capital que é: quanto posso ganhar com o menor investimento possível, no lapso de tempo mais curto e com mais chances de aumentar o meu poder de competição e de acumulação? Tudo isso tem um preço: a delapidação da natureza e o esquecimento da solidariedade generacional para com os que virão depois de nós. Eles precisam também satisfazer suas necessidades e habitar um planeta minimamente saudável. Mas esta não é a preocupação nem o discurso dos principais atores econômicos mundiais mesmo da maioria dos Estados, como o brasileiro que, nesta questão, é administrado por analfabetos ecológicos.Poucos são os que colocam a questão axial: afinal se trata de salvar o sistema ou resolver os problemas da humanidade? Esta é constituída em grande parte por sobreviventes de uma tribulação que não conhece pausa nem fim, provocada exatamente por um sistema econômico e por políticas que beneficiam apenas 20% da humanidade, deixando os demais 80% a comer migualhas ou entregues à sua própria sorte. Curiosamente, as vitimas que são a maioria sequer estão presentes ou representadas nos foros em que se discute o caos econômico atual. E pour cause, para o mercado são tidos como zeros econômicos, pois o que produzem e o que consomem é irrelevante para contabilidade geral do sistema.A crise atual constitui uma oportunidade única de a humanidade parar, pensar, ver onde se cometeram erros, como evitá-los e que rumos novos devemos conjuntamente construir para sair da crise, preservar a natureza e projetar um horizonte de esperança, promissor para toda a comunidade de vida, incluídas as pessoas humanas. Trata-se sem mais nem menos de articular um novo padrão de produção e de consumo com uma repartição mais equânime dos benefícios naturais e tecnológicos, respeitando a capacidade de suporte de cada ecosistema, do conjunto do sistema-Terra e vivendo em harmonia com a natureza. Milkahil Gorbachev, presidente da Cruz Verde Internacional e um dos principais animadores da Carta da Terra, grupo o qual pertenço, advertiu recentemente: Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Temos que chegar a um consenso sobre novos valores. Em 30 ou 40 anos a Terra poderá existir sem nós.A busca de um novo paradigma civilizatório é condição de nossa sobrevivência como espécie. Assim como está não podemos continuar. Na última página de seu livro A era dos extremos diz enfaticamente Eric Hobsbawm: Nosso mundo corre o risco de explosão e de implosão. Tem de mudar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade é a escuridão.Importa entender que estamos enredados em quatro grandes crises: duas conjunturais – a econômica e a alimentar – e duas estruturais – a energética e a climática. Todas elas estão interligadas e a solução deve ser includente. Não dá para se ater apenas à questão econômica, como é predominante nos dabates atuais. Deve-se começar pelas crises estruturais pois que se não forem bem encaminhadas, tornarão insustentáveis todas as demais. As crises estruturais, portanto, são as que mais atenção merecem. A crise energética revela que a matriz baseada na energia fóssil que movimenta 80% da máquina produtiva mundial tem dias contados. Ou inventamos energias alternativas ou entraremos em poucos anos num incomensurável colapso.A crise climática possui traços de tragédia. Não estamos indo ao encontro dela. Já estamos dentro dela. A Terra já começou a se aquecer. A roda começou a girar e nao há mais como pará-la, apenas diminuir sua velocidade ao minimizar seus efeitos catastróficos e ao adaptar-se a ela. Bilhões e bilhões de dólares devem ser investidos anualmente para estabilzar o clima entorno de 2 a 3 graus Celsius já que seu aquecimento poderá ficar entre 1,6 a 6 graus, o que poderia configurar uma devastação gigantesca da biodiversidade e o holocausto de milhões de seres humanos.De todas as formas, mesmo mitigado, este aquecimento vai produzir transtornos significativos no equilíbrio climático da Terra e provocar nos próximos anos cerca de 150-200 milhões de refugiados climáticos segundo dados fornecidos pelo atual Presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d'Escoto, em seu discurso inaugural em meados de outubro de 2008. E estes dificilmente aceitarão o veredito de morte sobre suas vidas. Romperão fronteiras nacionais, desestabilizando politicamente muitas nações.Estas duas crises estruturais vão inviabilizar o projeto do capital. Ele partia do falso pressuposto de que a Terra é uma espécie de baú do qual podemos tirar recursos indefinidamente. Hoje ficou claro que a Terra é um planeta pequeno, velho e limitado que não suporta um projeto de exploração ilimitada..Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de um Terra inteira. Em 1995 já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. Mas não chegaremos lá. Resta ainda lembrar que entre 1900 quando a humanidade tinha 1,6 bilhões de habitantes e 2008 com 6,7 bilhões, o consumo aumentou 16 vezes. Se os paises ricos quissessem generalizar para toda a humanidade o seu bem-estar - cálculos já foram feitos - iríamos precisar de duas Terras iguais a nossa.A crise de 1929 dava por descontada a sustentabilidade da Terra. A nossa não pode mais contar com este fato e com a abundancia dos recursos naturais. Nenhuma solução meramente econômica da crise pode suprir este déficit da Terra. Não considerar este dado torna a análise manca naquilo que é a determinação fundamental e a nova centralidade.Tudo isso nos convence de que a crise do capital não é crise cíclica. É crise terminal. Em 300 anos de hegemonia praticamente mundial, esse modo de produção com sua expressão política, o liberalismo, destruiu com sua voracidade desenfreada, as bases que o sustentam: a força de trabalho, substituindo-a pela máquina e a natureza devastando-a a ponto de ela não conseguir, sozinha, se auto-regenerar. Por mais estragemas que seus ideólogos vindos da tradição marxiana, keneysiana ou outras tentem inventar saídas para este corpo moribundo, elas não seráo capazes de reanimáa-lo. Suas dores não são de parto de um novo ser mas dores de um moribundo. Ele não morrerá nem hoje nem amanhã. Possui capacidade de prolongar sua agonia mas esgotou sua virtualidadae de nos oferecer um futuro dicernível. Quem o está matando não somos nós, já que não nos cabe matá-lo mas superá-lo, na boa tradição marxiana bem lembrada por Chico Oliveria em sua lúcida entrevista, mas a própria natureza e a Terra. Repetimos: os limites do capitalismo são os limites da Terra. Já encostamos nestes limites tanto da Terra quanto do capitalismo. A continuar seremos destruídos por Gaia pois ela, no processo evolucionário, sempre elimina aquelas espécies que de forma persistente e continuada ameaçam a todas as demais. Nós, homo sapiens e demens, nos fizemos, na dura expressão do grande biólogo E. Wilson, o Satã da Terra, quando nossa vocação era o de sermos seu cuidador, guardião e anjo bom.Para onde iremos? Nem o Papa nem o Dalai Lama, nem Barack Obama nem muito menos os economistas nos poderão apontar uma solução. Mas pelo menos podemos indicar uma direção. Se esta estiver certa, o caminho poderá fazer curvas, subir e descer e até conhecer atalhos, esta direção nos levará a uma terra na qual os seres humanos podem ainda viver humananente e tratar com cuidado, com compaixão e com amor a Terra, Pacha Mama, Nana e nossa Grande Mãe.Esta direção, como tantos outros já o assinalaram, se assenta nestes cinco eixos: (1) um uso sustentável, responsável e solidário dos limitados recursos e serviços da natureza; (2) o valor de uso dos bens deve ter prioridade sobre seu valor de troca; (3) um controle democrático deve ser construído nas relações sociais, especialmente sobre os mercados e os capitais especulativos; (4) o ethos mínimo mundial deve nascer do intercâmbio multicultural, dando ênfase à ética do cuidado, da compaixão, da cooperação e da responsabilidade universal; (5) a espiritualidade, como expressão da singularidade humana e não como monopólio das religiões, deve ser incentivada como uma espécie de aura benfazeja que acompanha a trajetória humana, pois ancora o ser humano e a história numa dimensão para além do espaço e do tempo, conferindo sentido à nossa curta passagem por este pequeno planeta.Devemos crer, como nos ensinam os cosmólogos contemporâneos, nas virtualidades escondidas naquela Energia de fundo da qual tudo provém, que sustenta o universo, que atua por detrás de cada ser e que subjaz a todos os eventos históricos e que permite emergências surpreendentes. É do caos que nasce a nova ordem. Devemos fazer de tudo para que o atual caos não seja destrutivo mas criativo. Então sobrevivemos com o mesmo destino da Terra, a única casa comum que temos para morar.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br

sábado, 17 de janeiro de 2009

Despertar de uma nova consciência

Novas árvores plantadas no local, à esquerda, o que restou das que foram cortadas.


Há cerca de duas semanas o Jornal Opinião trouxe uma matéria do Roberto Cupertino falando do corte de duas árvores na pracinha perto da Caixa Federal. A notícia mencionava o fato que uma das árvores, um Pau-Brasil, fora plantado por iniciativa do MACACA que na ocasião mobilizara os moradores e em uma cerimônia simples e tocante, ao som de trecho da Nona Sinfonia executada por um jovem instrumentista da Banda Santa Cecília, adultos e crianças faziam daquele ato uma manifestação pela paz mundial. Isso foi em Janeiro de 2002 e assistimos nesse período o aumento da intolerância em nossa cidade e no mundo, enquanto isso o Pau-Brasil crescia, junto à uma outra árvore plantada por alguém, afirmando sua presença e aguardando novos tempos. Suas vidas foram ceifadas por alguém que se julgou no direito de sobrepor a seu desejo pessoal sobre a vontade da coletividade, principalmente no árido centro comercial da Pedra Branca, carente de sombra e verde. A Polícia Ambiental foi chamada e o infrator deverá responder por seu ato e, enquanto isso, as pessoas do lugar mobilizaram-se e plantaram novas árvores no lugar prometendo cuidá-las com carinho. Isso é muito gratificante, pois mostra que plantar aquela árvore naquele já distante ano, pode ter contribuído de alguma maneira para o despertar de uma nova consciência das pessoas. Ave, Pau-Brasil, cumpriu a sua missão...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O Genocídio Palestino



O que o MACACA tem a ver com o conflito árabe-israelense? A primeira vista nada, mas engana-se quem pensa assim. Quando vemos o genocídio que se promove na faixa de Gaza, com um Estado terrorista como o de Israel armado até os dentes, apoiado pelos interesses das potências ocidentais, que avança sobre a população civil, destruindo casas, escolas, hospitais, matando inocentes em uma guerra movida pelo fundamentalismo de ambas as partes, não podemos ficar inertes. Somos parte de uma mesma humanidade e uma criança que morre na Palestina representa a morte do ser humano na sua essência. Não podemos ficar calados porque senão um dia "vão esmagar as flores no nosso jardim" como disse o poeta e já estaremos impotentes pela nossa própria covardia e omissão. Temos que abandonar a velha construção ideológica de "pensar globalmente e agir localmente", temos sim que pensar e agir localmente e globalmente pois a antiga frase só serve para manter a velha ordem vigente, a mesma responsável pelos crimes que vemos diante de nossos olhos.
Ramallah, 27 de dezembro de 2008
E lerei amanhã, nos seus jornais, que acabou a trégua em Gaza. Não é portanto um bloqueio, mas uma forma de paz, esse campo de concentração devastado pela fome e pela sede. E de que depende a diferença entre a paz e a guerra? Da contabilidade dos mortos? E as crianças corroídas pela subnutrição, como as contabilizamos? Morre de guerra ou de paz aquele que se vai porque falta eletricidade no bloco cirúrgico? Diz-se paz quando não há mísseis – mas como se diz quando falta todo o resto?E eu lerei nos seus jornais, amanhã, que tudo isso não é senão um ataque preventivo, que é somente um direito legítimo, inviolável, de autodefesa. A quarta potência militar do mundo, seus músculos nucleares contra os mísseis de ferro fundido, de papel machê e de desespero. E naturalmente vão me precisar que não se trata de um ataque contra civis – e aliás como poderia sê-lo, se os três homens que conversam sobre a Palestina, aqui, no meio da rua, são para as leis isralenses um núcleo de resistência e portanto um grupo ilegal, uma força combatente? - se nos documentos oficiais somos marcados como uma entidade inimiga e sem o mínimo freio ético, o câncer de Israel? Se o objetivo é erradicar o Hamas, tudo isso reforça o Hamas.Vocês chegam em aviões de caça para exportar a retórica da democracia, a bordo de aviões de caça, em seguida, chegam a estrangular a democracia –mas qual é a outra opção que resta? Não a deixe explodir sobre você com frequência. Não é o fundamentalismo que se bombardeia neste momento, mas tudo o que se lhe opõe. Tudo o que não restitui gratuitamente a essa ferocidade indiscriminada uma raiva igual e contrária, mas uma palavra nua de diálogo, a lucidez de raciocinar, a coragem de desertar. Isso não é um ataque contra o terrorismo, mas contra a outra Palestina, terceira e diferente, à medida que se esquiva dos mísseis, acuada entre a cumplicidade do Fatah e a miopia do Hamas. Estava se assassinando pela autodefesa, eu deveria assassiná-lo em autodefesa – um dia os sobreviventes assim contarão o que está se passando. E amanhã lerei nos jornais de vocês que todo processo de paz é impossível, os israelenses, vejam só, não têm sequer uma pessoa com quem conversar. E, com efeito – como poderiam tê-lo, entrincheirados por trás de um Muro de betão de oito metros? E, sobretudo, por que deveria tê-lo, se o Mapa do Caminho não é outra coisa que uma arma inimiga de distração em massa para a opinião pública internacional? Quatro páginas onde se exige, por exemplo, que cessem os ataques terroristas e onde se diz que, em troca, Israel não vai empreender qualquer ação que possa minar a confiança entre as duas partes como – textualmente – os ataques contra civis. Assassinar civis não mina a confiança, mas o direito; é um crime de guerra, não se trata de uma questão de cortesia. E se Anápolis é um processo de paz, tanto como esperamos, aqui, a única carta que avança são as terras confiscadas, as oliveiras arrancadas, as casas demolidas, as colônias ampliadas – por que, então, a proposição saudita não é um processo de paz? O fim da ocupação em troca do reconhecimento por parte de todos os Estados árabes. Poderíamos ter ao menos um sinal de reação? Alguém aí, do outro lado do Muro, por acaso escuta?Mas cá estou a lhes falar do vento. Porque amanhã só lerei uma linha nos seus jornais e somente amanhã, em seguida não lerei outra coisa, ainda, que a indiferença. E é apenas isso o que sinto, enquanto os F16 sobrevoam minha solidão em direção de centenas de danos colaterais dos quais conheço cada nome, cada vida – somente um vestígio do abandono e do erro infinitos. Europeus, americanos e também árabes – porque se alcançou a soberania egípcia, na passagem de Rafah, a moral egípcia tem o selo de Rafah? -, nós simplesmente estamos sós. Vocês desfilam, aqui, uma delegação após outra – e, falando, diria Garcia Lorca, as palavras restam no ar, como bóias na água. Vocês oferecem ajuda humanitária mas nós não somos mendigos, queremos dignidade, liberdade, fronteiras abertas; não pedimos favores, nós reivindicamos direitos. E, ao contrário, vocês chegam, indignados e desejosos de participar e perguntam o que podem fazer por nós. Uma escola? Uma clínica, talvez? Bolsas de estudo? E tentamos a cada vez convencê-los – não, não a generosa solidariedade, ensinava Bobbio, somente a justiça severa – das sanções, das sanções contra Israel. Mas vocês respondem – neutros em cada vez e portanto partilhando do desequilíbrio, partidários dos vencedores – não, isso seria anti-semita. Mas quem é mais anti-semita, aqueles que viciaram Israel ano após ano durante sessenta anos, até desfigurá-lo ao ponto de fazê-lo o país mais perigoso do mundo para os judeus ou aqueles que os advertem de que o Muro marca um gueto de dois lados?É talvez anti-semita reler Hannah Arendt hoje, em que nós, os palestinos, somos sua escória da terra, é anti-semita voltar a iluminar essas páginas sobre o poder e a violência, sobre a a última raça submetida ao colonialismo britânico, que teria sido, enfim, os próprios ingleses? Não, isso não é anti-semitismo, mas o exato contrário, defender os numerosos israelenses que tentam escapar de uma nakbah chamada sionismo. Porque não se trata de um ataque contra o terrorismo, mas contra o outro Israel, terceiro e diferente, à medida que se esquiva do pensamento único cerrado entre a cumplicidade da esquerda e a miopia da direita. Eu sei o que lerei amanhã, nos seus jornais. Mas não autodefesa, não a exigência de segurança. Tudo isso não se chama outra coisa que Apartheid – e genocídio. Porque pouco importa se os políticos israelenses, tecnicamente, aderem ou não aos milímetros das definições delicadamente lavradas pelo direito internacional, seu formalismo aristocrático, sua pretensa objetividade não são senão inimigos colaterais, aqui, que auxiliam e multiplicam a força dos vencedores. A essência desses aviões é a sua neutralidade, é o seu silêncio, são as explosões. Alguém se sinta berlinense, diante de um outro Muro. Quantos mortos restam, ainda, para vocês se sentirem cidadãos de Gaza?
Mustapha Barghouthi é médico, deputado no Conselho Legislativo Palestino e secretário geral da Iniciativa Nacional Palestina, um partido e movimento social engajado na assistência social laica e numa agenda política laicizante, bem como na defesa da independência e na democracia nos territórios palestinos ocupados. Foi candidato à presidência da Autoridade Palestina, em 2005, obtendo 19,7% das intenções de voto. Amigo de Edward Said, que defendia a formação de um estado laico, democrático e binacional, Barghouthi advoga, contudo, a solução de dois estados, as fronteiras isralenses da linha verde, datadas de 1967, e trabalha nas emergências de hospitais na Palestina, militando contra o Muro de anexação da Cisjordânia.
Tradução: Katarina Peixoto

domingo, 4 de janeiro de 2009



Mais um ano se passou e o MACACA continua sua senda em defesa da cultura e do meio ambiente de Caeté. A entidade, diante do desafio de, numa sociedade individualista e de consumo continuar existindo, respirou fundo e resiste. O mote foi a intenção de continuar sendo um instrumento de luta na construção do único caminho viável e pacífico para a consolidação de uma sociedade mais justa e sustentável, a cidadania. Para isso a entidade trabalhou com verdadeiro afã em dar um novo salto de preparação e adaptação para alcançar objetivos estatutários do mesmo nível de importância que tem a defesa da Serra da Piedade, por exemplo.
Foi necessário, portanto dedicar todo o esforço voluntário disponível do ano 2008 em:

- tirar a entidade da situação difícil que se encontrava votando um novo estatuto e elegendo uma nova diretoria.
- fazer os registros das atas e estatuto no cartório.
- regularizar a situação junto à receita federal.
- Mobilizar e promover o encontro de entidades para a formação da rede Movimento Serras e Águas de Minas.
- Continuar atuando dentro do SOS Serra da Piedade.
- Conseguir cadeira no Conselho da Cidade.
- Manter um canal de comunicação através do blog macacaete.blogspot.com; (infelizmente não sabemos o retorno pois não vemos comentários).
- Promover os cines-paredes.
- Participar indiretamente através de associados e apoiar o projeto dos Congados com a Associação dos Artesãos.

Em 2009 todos os objetivos a longo prazo em andamento serão mantidos e estão diretamente relacionados com defesa da qualidade de vida e dos recursos naturais e culturais. Para avançar na organização da sociedade civil em diferentes frentes ampliar a capacidade de comunicação e associar-se em rede com entidades com afinidades em comum será fundamental. Para isso continuamos contando com o apóio dos companheiros e simpatizantes de sempre. Serão benvindos os que se sintam também atraídos por desafios sem esperar resultados imediatos ou individuais, mas sim animados em participar em uma iniciativa coletiva sem fins lucrativos. Participe você também, venha conosco nessa caminhada e tenha, além de um Feliz Novo Milênio,
Feliz Ano Novo!
Agora mais que nunca com a certeza de que você pode colaborar, mesmo com pequenas ações, para que seja assim.
Ronaldo Candin.