sábado, 2 de março de 2013

A QUE VEM O INSTITUTO GANDARELA?


PARTE 1

No início de dezembro de 2011 tomamos conhecimento do chamado “Instituto Gandarela”, com uma marca com design meio abstrato em tons de vermelho e marrom. Muita curiosidade de todos nós. Será que tem relação com a Serra do Gandarela? Será que foi criado por alguém com esse sobrenome que nem conhece a região? Será que é a Vale?


  Pesquisamos no Google. Nada de site ou blog. Localizamos que foi criado em 12/8/2010 e que, como co-realizador da Mostra BH 2011, o Instituto Gandarela recebeu dotação orçamentária da Fundação Municipal de Cultura/PBH (R$ 411.556,00), através do gabinete do Prefeito, e contou com o patrocínio da Petrobras (R$ 100.000,00) e apoio da Arte Brasil Produção Cultural e da Fundação Nacional das Artes (Funarte), que cedeu quatro galpões em Belo Horizonte. Naquele momento, percebemos que o instituto recém-criado chegava com condição para captar recursos públicos e apoios de porte, estaduais e federais.

Não demorou muito para ter mais informações. No dia 20/12/2011, em reunião do Grupo de Trabalho criado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais (GT2), do qual participamos, a Vale apresentou seu Programa Integrado de Gestão Ambiental do Projeto Apolo, pretendido na Serra do Gandarela. E lá estava, entre os 34 slides, o Instituto Gandarela. Ou era muita coincidência...




Estrategicamente, os representantes da empresa falaram sobre o alcance e perspectivas desse Programa antes de apresentar sua proposta para os limites do Parque Nacional da Serra do Gandarela.  Assim, ficou claro naquele dia que a Vale escolheu um “pacote” de iniciativas, entre elas o Instituto Gandarela, que apresentava como contrapartida para “detonar” grande parte da Unidade de Conservação federal e permitir suas pretensões minerárias na região.



Redobramos a atenção sobre o Instituto Gandarela. A entrada do site no ar, as matérias na mídia, o contrato com o Shakespeare’s Globe Theatre e a realização de eventos de grupos artísticos mineiros. Assim, tomamos conhecimento sobre quem estava à frente, como co-Fundador e presidente: Mauro Maya, empresário natural da terra de Carlos Drummond de Andrade, Itabira, funcionário da Companhia Vale do Rio Doce por 11 anos, onde também foi promotor de eventos internos da empresa, fundador da Arte Brasil Produção Cultural. Desconhecemos o quanto sabe sobre a questão Preservação da Serra do Gandarela x Vale S.A.





Não vamos entrar no mérito se a cópia de um grande projeto cultural, com alicerce num ícone do teatro inglês, é o mais adequado em Minas Gerais, com sua cultura única e forte repertório de movimento de teatro de grupos, e na região do Gandarela que fica bem no coração dos Caminhos da Estrada Real (dos Diamantes e de Sabarabussú), entre vários núcleos históricos significativos do período do ciclo do ouro com importante acervo arqueológico, histórico e de manifestações e tradições culturais. 

Encontramos trechos interessantes no site do Instituto Gandarela:  

O Instituto Arte Brasil, consciente de seu papel como agente cultural e formador de cidadania, buscou meios de criar ali o Complexo Cultural Gandarela, que englobará diversificadas áreas do saber e do fazer. Com tal objetivo, fez parceria com a VALE, que lhe passou, em regime de comodato por vinte (20) anos, um terreno de vinte mil (20.000) metros quadrados onde serão implantados teatros, arena para circo, salas para oficinas de treinamento profissional e artístico, espaços para trabalho de preservação ambiental, conforme explicitado no projeto de construção do referido Complexo.

Justificativa

Consciente de sua responsabilidade para com seus concidadãos, e das possibilidades de reunião, na região de Rio Acima, dada sua localização próxima a Belo Horizonte, às cidades históricas, e a três Universidades Federais (UFMG, UFOP, UFV), a Arte Brasil, de mãos dadas com a VALE, não tem dúvida de que, uma vez implantado, este projeto renderá resultados muito positivos, já a curto prazo.


Os pontos fundamentais para o cumprimento desse objetivo são: Criar um viveiro de mudas aberto à visitação. Este viveiro conterá mudas de plantas características da Serra do Gandarela, com a correta identificação das espécies, a fim de preservar os espécimes da região, permitir a restauração da vegetação típica após a atividade mineradora e mostrar para a população a diversidade de plantas presentes em nossa região.

(Retirado do site do Instituto Gandarela em 26/2/2013)


Mas o mais inacreditável é que, com objetivos nas áreas ambiental, cultural, artística, educativa, turística e de geração de renda, o Instituto Gandarela EM NENHUM MOMENTO MENCIONA O PARQUE NACIONAL DA SERRA DO GANDARELA que, pela relevância de seus inúmeros atributos, por si só já é um grandioso complexo natural e cultural com todas essas perspectivas, inclusive a nível internacional.

Assim, neste momento e até que os próximos meses nos tragam novas informações, entendemos que o Instituto Gandarela veio para consolidar as ações da Vale no sentido de alterar os limites do Parque Nacional da Serra do Gandarela, por pressão direta junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ao Ministério do Meio Ambiente e demais entes envolvidos na criação dessa importante Unidade de Conservação.  Mas pressupomos que deve ser sem o conhecimento de parte dos envolvidos, das entidades parceiras e dos apoiadores.

Sendo assim, trazem para a sociedade, inicialmente de Rio Acima, onde estão previstos os maiores impactos sociais oriundos da atividade de mineração, o Complexo Cultural Gandarela, e outras iniciativas, como moeda-de-troca pelos gigantescos impactos regionais da Mina Apolo sobre o último santuário de porte e ainda preservado da Região Metropolitana de Belo Horizonte.  Provavelmente, a Vale surgirá como benfeitora, encobrindo sua ambição desmedida que insiste em destruir definitivamente a Serra do Gandarela e a proposta do Parque Nacional e o que significam para a vida de todos nós hoje e dos que virão no futuro, em uma região metropolitana com mais de cinco milhões de habitantes. PORQUE SEM ÁGUA E BIODIVERSIDADE NÃO HÁ VIDA.

Algo nos diz que isso tudo acontece através de uma ampla articulação da Vale e seus aliados, numa intrincada “rede de influências”. O futuro dirá qual é a verdade!


QUEREMOS UM PARQUE NACIONAL DA SERRA DO GANDARELA DIGNO
E SEM CONCESSÕES À INTRANSIGÊNCIA DA VALE

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