segunda-feira, 30 de maio de 2011

Mata Atlântica - Minas lidera a devastação

Qui, 27 de Maio de 2010 15:52 Carolina de Scicco

A exploração ilegal de carvão vegetal para siderúrgicas tornou Minas Gerais o Estado campeão de desmatamento na mata atlântica.O dado é da nova edição do atlas de remanescentes do bioma, divulgado ontem (26) pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pela ONG SOS Mata Atlântica.As imagens de satélite trazem, por um lado, uma boa notícia: nos nove Estados monitorados entre 2008 e 2010, a devastação no bioma caiu 21% em comparação com a média anual do período anterior, de 2005 a 2008. Até em Santa Catarina, tradicional líder em destruição do bioma, o desmate caiu.
Apesar da aprovação, no ano passado, de uma lei que permite aos produtores do Estado desmatarem a mais em margens de rio (áreas de proteção permanente), o Estado teve uma redução de 75% na taxa de desmatamento entre 2008 e 2010 em relação à média de 2005 a 2008.Segundo Flávio Ponzoni, coordenador do monitoramento da mata atlântica do Inpe, a queda provavelmente pode ser explicada pelas chuvas do final de 2008, que arrasaram Santa Catarina e frearam a economia.
VENDO ALÉMPor outro lado, Minas e Rio Grande do Sul contrariaram a tendência geral, com 15% e 83% de aumento na taxa, respectivamente.Neste último Estado, a devastação se concentrou na região serrana.Segundo Márcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica, a razão da explosão do desmatamento observado em terras gaúchas ainda precisa ser explicada.Mas ela se deve provavelmente não a uma mudança radical na economia, mas à melhora do método de detecção, que consegue "enxergar" derrubadas menores."No Sul as propriedades são pequenas. Há 20 anos [quando o monitoramento começou] só conseguíamos ver desmatamentos maiores que 40 hectares. Hoje, enxergamos até 3 hectares."Já em Minas, apesar de a porcentagem de aumento na taxa ser menor, o tamanho da devastação é bem maior: foram 12.524 ha de mata atlântica perdidos entre 2008 e 2010, contra 1.897 ha no Rio Grande do Sul.
TRANSIÇÃOOs cinco municípios que mais desmataram o bioma estão todos no norte mineiro, em florestas de transição entre mata atlântica, cerrado e caatinga. Nessas áreas há exploração de lenha para a fabricação de carvão vegetal.Segundo Hirota, é a mesma região que concentrara a derrubada em 2005-2008. "Nós já havíamos alertado o governo do Estado", diz. "Seria interessante ver o que eles fizeram a respeito."Está em tramitação na Assembleia Legislativa mineira um projeto de lei para excluir as matas dessa região, as chamadas "florestas secas", da proteção da Lei da Mata Atlântica, Isso legalizaria desmatamentos ali."O problema da siderurgia tem solução", disse Mario Mantovani, da SOS Mata Atlântica. "[Minas] já tem uma área plantada extensa [de eucalipto para fabricar carvão], mas há o problema do contrabando."
Texo de Claudio Angelo, divulgado no jornal Folha de S. Paulo (www.folha.com.br)

Fonte: http://www.jornalentreposto.com.br/extras/noticias/1223-carvao-devasta-mata-atlantica-mineira


domingo, 29 de maio de 2011

Concreto e desolação

Praça de José Brandão neste domingo (foto Macaca).

Concreto e desolação dão o tom da Praça Getúlio Vargas em José Brandão após a quase conclusão da reforma da mesma pela prefeitura. Aqui e ali pequenos espaços retangulares gramados emolduram pequenas palmeiras e deixam no ar a pergunta: onde estão as árvores?
Se as praças são espaços públicos cuja principal característica é a permanência, que possibilita a convivência, como compreender esse urbanismo desumanizador, pois não dá para conceber o uso que se fazia anteriormente do lugar dentro dessa nova e estranha proposta.
A equivocada estética clean imposta às praças da cidade nos remetem ao urbanismo sanitarista do início do século passado com suas políticas higienistas de controle social e pode-se pensar que no caso de nossa cidade o objetivo principal é afastar as "classes perigosas", como se não soubéssemos que as classes perigosas estão instaladas em gabinetes confortáveis com o mando do poder político e econômico.
Agora já falam em "reformar" a praça do poliesportivo outra vez, espaço que já passou por uma intervenção a pouco tempo e isso é totalmente questionável, pois a cidade deve ter outras prioridades.
Será que descobriram um novo e rico filão de reforma de praças?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Caraça, Gandarela e a necessidade de preservação

Entre o céu e o inferno

Sítio histórico de Minas Gerais corre risco de ser ilhado por mineradoras

Cristina Romanelli
1/5/2011

Não é de hoje que a Serra do Caraça, em Minas Gerais, tem uma ligação com os céus. Ela já abrigou uma irmandade, uma escola apostólica e um colégio preparatório dirigido por padres. Talvez tenha chegado a hora de aproveitar essa conexão especial e apelar para a ajuda divina. Mesmo inserida em várias áreas de proteção ambiental, a serra está sendo cercada por mineradoras e corre o risco de ficar ilhada. Denúncias de esquemas para burlar a já falha legislação ambiental se espalham até a vizinha Serra do Gandarela, apesar de estar em andamento a criação de um parque nacional no local.
“No século XVIII, o irmão Lourenço criou na Serra do Caraça uma hospedagem e a irmandade Nossa Senhora Mãe dos Homens. Depois, em 1820, dois padres da Congregação da Missão fundaram ali um colégio preparatório, que chegou a ter cinco vezes mais estudantes que os outros colégios”, conta Mariza Guerra de Andrade, autora de A educação exilada – Colégio do Caraça (Autêntica, 2000). Todos os alunos que passaram por ali eram membros da elite, como os futuros presidentes Afonso Pena e Artur Bernardes [ver “À porta do céu”, RHBN nº 14].
Desde os anos 1970, o local, tombado pelo Iphan, funciona como pousada. É possível ver partes das alas construídas pelo irmão Lourenço, os prédios e a igreja do século XIX. “Há uma biblioteca, com obras principalmente literárias e religiosas, e um pequeno museu com peças antigas”, diz Mariza. As outras atrações são as mesmas que já encantavam viajantes como o botânico Carl Friedrich Philipp von Martius nos séculos anteriores: um vale com cachoeiras, piscinas naturais, grutas e grande variedade de animais e plantas. Com tanta oferta, a área virou Reserva Particular de Patrimônio Ambiental (RPPN) e foi decretada Parque Natural pelo Ibama em 1994. Hoje a serra está inserida em outras três áreas de proteção maiores. No entanto, nada disso a protege das atividades mineradoras ao redor. “Se o Caraça virar uma ilha, sem proteção em volta, a fauna vai ter dificuldade para sair, o que impossibilitará a troca genética e a polinização de outras áreas. Precisamos de um corredor ecológico que ligue a serra a outra área de preservação”, explica Aline de Abreu, coordenadora ambiental da RPPN Santuário do Caraça. Segundo ela, os lobos-guará, que atraem grande parte dos turistas, também seriam prejudicados. “Quando os filhotes crescem, lutam com os pais para decidir quem fica com o território, e os perdedores têm que ir para outro lugar. Não sei como fariam”, diz Aline.Na busca pela preservação, os ambientalistas descobriram que, embora a serra seja considerada Monumento Natural desde 1989, nunca teve sua área delimitada, o que gera insegurança jurídica. “O Monumento Natural não permite a extração de recursos naturais, como a mineração. Se a delimitação não ocorrer em breve, o Ministério Público acionará o Poder Judiciário”, afirma Marcos Paulo de Souza Miranda, promotor do Ministério Público de Minas Gerais.
De acordo com o Instituto Estadual de Florestas, a meta é que o processo de criação do Monumento Natural seja finalizado este ano. Enquanto isso, por estar em pleno quadrilátero ferrífero, a serra vai sendo cercada por mineradoras. “Mesmo dentro da RPPN do Caraça havia títulos para exploração de ouro. Uma de nossas primeiras vitórias aconteceu no fim de março, quando uma recomendação para cancelamento foi aprovada”, conta o promotor. Segundo ele, há uma série de investigações e ações civis públicas em andamento. “Há indícios de irregularidades e simulações, mas não podemos citar nomes por enquanto”, explica.Já na Serra do Gandarela, que fica logo ao lado, as investigações parecem estar mais avançadas, tanto quanto a ação das mineradoras. Segundo documento expedido pela Procuradoria da República em Minas Gerais em maio de 2009, a concessão de Autorizações Ambientais de Funcionamento às empresas Vale, Mineração Serras do Oeste e Mineração Apolo “sugere a ocorrência de fragmentação de empreendimento minerário como forma de burlar a exigência de licenciamento ambiental”. Ou seja, as empresas teriam apresentado suas atividades na região separadamente, com o objetivo de não chamar atenção para a real dimensão dos empreendimentos. Alguns ambientalistas vão mais longe nas acusações. Afirmam que a Vale teria contratado empresas menores como “testas de ferro” para atuar em áreas que pertencem ao Projeto Mina Apolo, o maior empreendimento na região. “Nós às vezes arrendamos terras para empresas pequenas, mas tudo é avisado aos órgãos de defesa ambiental”, defende Julio Nery, gerente-geral de Licenciamento Ambiental da Vale. A preservação da Serra do Gandarela é a peça-chave para resolver o problema da região do Caraça. Por serem muito próximas, as duas serras, se preservadas, manteriam um corredor ecológico e não ficariam isoladas. “Em 2009, fizemos o pedido de criação de um parque nacional na Serra do Gandarela. A proposta foi aceita pelo Instituto Chico Mendes e deve ir em breve às consultas públicas. O problema é que será preciso negociar com as mineradoras”, explica a ambientalista Maria Teresa Corujo. Segundo João Augusto Madeira, analista ambiental do Instituto Chico Mendes, se o projeto Mina Apolo não sofrer alterações, inviabilizará a criação do parque. “As outras propostas de preservação da área, para ‘compensar’ a implantação do projeto, são incompletas. Não garantem a sobrevivência dos diversos ecossistemas da região e não evitam que o complexo hidrológico seja prejudicado”, diz ele. Enquanto a situação não se resolve, grupos ambientalistas estão fazendo um abaixo-assinado e aumentando o número de adeptos da causa. Por enquanto, são mais de 15 mil assinaturas. Diante de interesses tão discordantes, toda ajuda é pouca.

Publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional

http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/entre-o-ceu-e-o-inferno

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Movimento do Gandarela em Brasília

MOVIMENTO APOIA CRIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DO GANDARELA


Thaís Alves
thais.lima@icmbio.gov.br

Brasília (16/05/2011) – O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello, e o diretor de Unidades de Conservação de Proteção Integral, Ricardo Soavinski, receberam na tarde desta segunda-feira (16), na sede do Instituto, em Brasília, representantes do Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela, que fica na região metropolitana de Belo Horizonte (MG).

O movimento apoia a criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, proposta pelo ICMBio em 2010 e ainda em estudos. Segundo Rômulo Mello, a mobilização da comunidade coincide com a preocupação do Instituto. “Há patamares políticos e em níveis diferentes para discutir a criação do parque, mas existe a negociação e o diálogo. Para nós, a luta é pela conservação de áreas de relevância como esta”, ressaltou o presidente.

Para os representantes do movimento, é importante ter o ICMBio como parceiro. A expectativa do grupo é continuar o diálogo com outros setores que mantêm alguma relação com a criação do parque. Ainda nesta segunda-feira, eles se reuniram com dirigentes do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

HISTÓRICO – Proposta em setembro de 2010, a criação da unidade de conservação está fundamentada em estudos elaborados por técnicos do Instituto que consideraram como relevantes para a conservação os atributos biológicos, hidrológicos e geológicos da Serra do Gandarela.

Aproximadamente 20 mil hectares da área prevista para conservação estão no bioma da Mata Atlântica. O local é conhecido pela grande quantidade de nascentes que alimentam aquíferos. Além da preservação da flora e fauna, os representantes do movimento entendem que a criação do parque vai dar visibilidade à região e gerar desenvolvimento, principalmente por meio do ecoturismo.

GANDADERELA - A Serra do Gandarela está localizado a sudeste da capital mineira, na Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Situa-se entre as serras do Caraça e da Piedade e abrange os municípios de Barão de Cocais, Caeté, Santa Bárbara, Rio Acima, Raposos e Itabirito.

Formando um corredor natural com o Caraça, o Gandarela é uma das últimas áreas ainda bem preservadas de toda a região com significativa extensão de Mata Atlântica e campos rupestres sobre cangas.

Ascom/ICMBio

http://www.icmbio.gov.br/comunicacao/noticias/4-geral/876-movimento-apoia-criacao-do-parque-nacional-da-serra-do-gandarela

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mais Carne, menos água.

Mais carne, menos água. Entrevista especial com Guilherme Carvalho


por Redação IHU

“Existem várias opções de estilos de vida que trazem a ideia de diminuir o consumo de carne. Há vegetariano ou vegano e também o flexitariano, como se tem chamado aquele que chega a reduzir 50% do consumo de carne”, aponta o ambientalista.

1224 Mais carne, menos água. Entrevista especial com Guilherme CarvalhoUm dos principais reflexos da produção intensiva de carne se dá na água da região onde a pecuária existe. O problema é ainda maior quando se analisa a produção de alimentos para animais que depois vão para o prato das pessoas. A soja é um dos principais produtos utilizados em rações. O Mato Grosso é o Estado que mais produz esse grão no país e uma pesquisa, realizada em algumas cidades produtoras de soja, “encontrou resíduos de agrotóxicos no sangue e urina de moradores e nos reservatórios de água e poços artesianos das regiões pesquisadas”, como indica Guilherme Carvalho. Ele concedeu a entrevista a seguir por telefone à IHU On-Line em que falou a respeito das consequências e alternativas para o consumo e para a produção de carne no mundo.

Guilherme Carvalho é biólogo e gerente de campanhas da Humane Society International (HSI) no Brasil, uma ONG internacional de proteção animal. Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como você relaciona a questão das mudanças climáticas com o consumo de carne?

Guilherme Carvalho – Há uma relação muito próxima entre a produção de alimentos de cultura animal e as mudanças climáticas. Segundo um relatório de 2006 da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 18% dos dados de efeito estufa emitidos por atividades humanas vêm deste setor, da cultura animal. Isto vem de vários subsetores dentro da cultura animal, incluindo principalmente o uso de combustíveis fósseis nas propriedades, a utilização de fertilizantes em grãos que vão virar ração animal, grandes quantidades de metano, o manejo, a destinação e o tratamento dos dejetos animais… Isto tudo junto soma, segundo os cálculos da FAO, 18% dos dados do efeito estufa que é comparável ou até mesmo superior à contribuição do setor de transporte.

IHU On-Line – Quanto o consumo de carne no mundo pode alterar o atual patamar das mudanças climáticas?

Guilherme Carvalho – Sem dúvida uma redução gradual do consumo per capita de produtos animais, principalmente em classes médias e emergentes, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento tem potencial, sim, de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Hoje, matam-se mais de 67 bilhões de animais terrestres por ano, somente para consumo de carne, leite e ovos. Este é um número astronômico.

Os Estados Unidos conseguiram, pela primeira vez em décadas, reduzir o número de animais que criam e abatem anualmente. Entre 2000 e 2009, reduziram de dez bilhões para nove bilhões, ou seja, ainda é um número enorme. Isto mostra que a redução do consumo de carne, que é uma questão que está sendo lentamente conquistada nos Estados Unidos, tem potencial de diminuir o número de animais, os impactos e as mudanças climáticas.

IHU On-Line – Que tipo de movimentos existem hoje na luta pela diminuição do consumo de carne no mundo?

Guilherme Carvalho – Existem várias opções de estilos de vida que trazem a ideia de diminuir o consumo de carne. Há vegetariano ou vegano e também o flexitariano, como se tem chamado aquele que chega a reduzir 50% do consumo de carne. Nos Estados Unidos, há um movimento chamado WeekendVegetarian, ou seja, aquele que só come carne nos finais de semana. Há ainda um movimento conhecido por Segunda sem Carne, que faz uma campanha internacional de grande potencial que está ganhando força no Brasil e pode ajudar a reduzir o nosso impacto no efeito estufa. Inclusive esta é uma das principais medidas que podemos empreender – junto com outras, é claro –, tal como reduzir o uso do transporte individual.

IHU On-Line – E o que o consumo de água tem a ver com o consumo de carne?

Guilherme Carvalho – Uma questão essencial de ser entendida na cadeia de produção de carne, leite e ovos, é a da convenção alimentar. Quando consumimos a carne de um animal que se alimentou durante a sua vida de alimentos de origem vegetal, estamos diminuindo a eficiência do uso daquele alimento de origem vegetal. Porque cada espécie tem uma taxa de conversão alimentar, ela come X quilos de alimento vegetal para produzir Y quilos de carne. No caso dos bovinos, esta taxa de conversão está nas casas de sete a dez, ou seja, para cada sete a dez quilos de proteína vegetal ingerida, é gerado um quilo de proteína animal.

No caso dos frangos, que vêm sendo geneticamente selecionados, isto está na casa dos dois a três quilos ingeridos para um quilo produzido. Isto tem uma série de impactos inclusive sobre a água, porque significa que existe por trás da produção animal uma produção vegetal enorme, que está dedicada exclusivamente a alimentar estes animais de produção. Hoje, 97% da soja produzida no mundo é usada para alimentar animais. Além disso, polui muito a água com o uso de fertilizantes e agrotóxicos. Este é um dos muitos componentes do impacto que temos da agricultura animal sobre a água, tanto que existe um estudo recente da Universidade Federal de Mato Grosso junto com a Fundação Osvaldo Cruz, que encontrou resíduos de agrotóxicos no sangue e urina de moradores e nos reservatórios de água e poços artesianos das regiões pesquisadas. Um deles é Campo Verde, um dos principais produtores de grãos no Mato Grosso, que é o maior produtor de soja no Brasil.

Foi verificado que 31% dos poços artesianos com resíduos de agrotóxicos e 40% das amostras de água de chuva estavam contaminados. Este é um exemplo de como a água pode ser afetada pela produção de carne. Pense que os animais produzem quantidades enormes de dejetos que são depositados em lagoas de dejetos; por exemplo, no caso da indústria de carne suína. Estes acabam quase sempre sendo despejados nos campos, sem tratamentos ou com tratamento mínimo, infiltrando-se nos lençóis freáticos e mananciais de águas.

IHU On-Line – Esta água utilizada na produção animal é descartada de que maneira? Ela pode ser recuperada?

Guilherme Carvalho – Ela não costuma ser descartada de maneira correta. Existe um estudo que apontou que uma grande quantidade de animais pode facilmente igualar-se a uma pequena cidade em termos de produção de dejetos. Existe uma iniciativa que pretende gerar combustível a partir dos gases destes dejetos animais, e, portanto, minimizar o impacto ambiental. Se os dejetos fossem tratados corretamente, teríamos alguma redução de impacto no meio ambiente, mas os custos seriam internalizados e tornariam os produtos animais mais caros.

IHU On-Line – Sendo o Brasil o país com maior porcentagem de água doce e, ao mesmo tempo, um dos maiores produtores de carne, como este processo afeta o meio ambiente do país?

Guilherme Carvalho – Existe uma série de efeitos que a agricultura causa no meio ambiente, um deles é o despejo de dejetos animais, como dissemos antes. Além disso, temos outro dado que revela o quanto a produção de carne é prejudicial: hoje, a pecuária é, no Brasil, a maior causa de desmatamento na Amazônia. Água e floresta são coisas que andam muito juntos. Então, quando se suprem áreas de floresta, a água aproveitável do local está sendo perdida.

IHU On-Line – Como mudar essa lógica de produção?

Guilherme Carvalho – O primeiro processo é a conscientização do consumidor. É preciso consumir menos e o consumidor precisa se conscientizar a respeito da qualidade ética e ambiental dos produtos animais que ele consome. É a partir daí que podemos efetivar a pressão sobre o poder público. As políticas públicas também desde já precisam levar em conta o setor da agricultura animal, porque ele tem que ser reconhecido como um causador de alguns dos maiores impactos no meio ambiente brasileiro. Além disso, a pecuária é a maior utilizadora de terras.

IHU On-Line – Que outros hábitos alimentares humanos vêm interferindo no clima?

Guilherme Carvalho – A alimentação que reduz o consumo de carne é ambientalmente melhor. Mas não adianta reduzir o consumo de carne se comemos produtos importados, que vêm do outro lado do planeta. Consumir produtos orgânicos e da agricultura familiar e local é melhor também.

* Publicado originalmente no site IHU On-line.

Fonte: http://envolverde.com.br/ambiente/entrevistas-ambiente/mais-carne-menos-agua-entrevista-especial-com-guilherme-carvalho/


sábado, 14 de maio de 2011

Gandarela vai à Brasília

Caravana da preservação

Mobilizadores levarão proposta de criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela à Brasília

O Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela está organizando uma caravana para ir à Brasília divulgar a criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela. A coordenação do Movimento tem uma reunião agendada na segunda, dia 16, às 14 horas, com o presidente do Instituto Chico Mendes de Preservação, e outra com Ministério do Meio Ambiente, às 16 horas. Durante o encontro serão discutidas a proposta, questões técnicas e políticas relacionadas à criação do Parque. Os mobilizadores aproveitarão a oportunidade para fazer uma manifestação em prol da causa e distribuir materiais de divulgação. Será disponibilizado transporte para interessados em participar do evento. A saída será no domingo, dia 15, às 22 horas. O grupo se encontrará em frente à Faculdade de Medicina da UFMG, na Avenida Alfredo Balena, 190. Interessados em participar devem falar com Saulo Álvares pelos telefones (31) 9580-6768, (31) 3409-9818 ou pelo e-mail saulomanuelzao@gmail.com. Outras informações estão disponíveis na página do Movimento.

O Gandarela e o Parque

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão federal responsável pelas unidades de conservação, recebeu em 2009 a proposta de criação do Parque. A ideia é que ele abranja áreas das cidades de Caeté, Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Barão de Cocais, Itabirito, Ouro Preto e Santa Bárbara. A região abriga as últimas áreas significativas de Mata Atlântica dentro do Quadrilátero Ferrífero, Campos Rupestres e Cerrado. O lugar acolhe cavernas, cachoeiras, um sítio paleontológico registrado como patrimônio da humanidade, além de acervo arqueológico e histórico. O Gandarela possui também um considerável número de nascentes e cursos d’água afluentes das Bacias dos Rios Conceição e das Velhas. A proposta é que a área de proteção integral abrigue cerca de mil nascentes, sendo esses mananciais estratégicos para o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A região é ameaçada por atividades de exploração mineral. Os projetos de licenciamento de empreendimentos na área foram suspensos a pedido do Ministério Público Estadual até que o Parque seja criado.

Fonte: http://www.manuelzao.ufmg.br/comunicacao/noticias/caravana-da-preservação

sábado, 7 de maio de 2011

Efeitos nefastos da mineração

Efeitos nefastos da mineração

Entorno de Parauapebas (PA) vê crescimento da prostituição infantil após chegada de empreendimentos liderados pela Vale

06/05/2011

Marcio Zonta

de Bom Jesus das Selvas (MA)

A Vila Sansão fica a 70 quilômetros da cidade paraense de Parauapebas, onde está concentrada a exploração mineral do projeto de Carajás, liderado pela Vale. A vila é constituída de 257 lotes e conta com uma escola com uma escola de 17 professores e 360 alunos, da educação infantil ao ensino fundamental.

A população da vila, que surgiu em 1984, é de 1200 pessoas, grande parte atraída nos últimos tempos pela promessa de emprego na Vale e suas três terceirizadas, entre elas a Odebrecht, que vieram para a implantação da infra-estrutura do projeto Salobo, que explora cobre na região.

Situada no entorno da Floresta Nacional de Tapirapé, sob domínio de projetos da Vale, os moradores passaram a conviver com a chegada de 7 mil homens abrigados em grandes alojamentos construídos dentro da vila.

Antes a vila contava com quatro igrejas evangélicas, uma católica e quatro pequenas casas comerciais com venda de gêneros alimentícios. Hoje, a vila passou a ter nove bares e seis casas consideradas como locais de prostituição.

“Como consequencia, o índice de exploração sexual infantil aumentou drasticamente. Já foram constatados três casos de estupros. São adolescentes que deixam a escola e vão para prostituição, outras permanecem na escola e à noite caem na prostituição”, revela o sociólogo Raimundo Gomes da Cruz Neto, do Movimento dos Atingidos pela Mineração no Estado paraense.

Tâmara

Aos dezessete anos, com traços indígenas, e uma estatura de aproximadamente 1,70 m, Tâmara* é uma dessas adolescentes citadas por Neto. Cursa o primeiro ano do ensino fundamental à tarde e à noite faz programa numa das casas de prostituição da vila, muito frequentada por funcionários da Vale e de suas terceirizadas.

“Moro na vila aqui há três anos com meus pais e meus três irmãos, primeiro viemos de uma cidadezinha pequena perto de Belém para Parauapebas, procurando emprego para o meu pai, depois disseram que era aqui que teríamos emprego e aí viemos para cá”, conta Tâmara.

O pai realmente arrumou um emprego, mas não na Vale, nem em suas terceirizadas. Hoje ele retira vegetações daninhas em fazendas próximas à Vila Sansão.

Já Tâmara, quase todas as noites adentra uma casa, que foi adaptada para receber homens das empresas instaladas na vila. Com um balcão à esquerda margeado de bancos, reserva quatro quartos ao longo de um corredor que termina em um quintal escuro ao fundo. A “casa” tem no mínimo seis adolescentes por noite para atender aos clientes.

“Em dia de semana, venho aqui umas 20h e vou embora lá pela meia noite, às sextas e sábados fico até mais tarde, umas 2h, 3h, pois tem mais homens”, diz Tâmara.

Uma senhora atende os clientes que pedem bebidas: cerveja, cachaça ou algumas marcas de uísque nacional. Entre eles está Roberto*. “Frequento aqui faz tempo, desde que cheguei, há um ano. Venho de Goiás para trabalhar numa empresa aqui. Sabe como é, né? Só trabalhar, não dá”, afirma.

Roberto, que se negou a revelar o nome da empresa onde trabalha, revela que os freqüentadores do local têm ciência de que a casa explora menores. “A gente sabe que a maioria das meninas é ‘de menor’, nossos chefes sabem, as empresas sabem, mas, poxa, vir para cá no meio do nada morar com um monte de macho, sem nada para fazer de noite, fica complicado”.

“Sem discernimento”

Em meio a casas de taipa, de onde saem crianças sujas e descalças, desponta protegido por enormes portões um prédio com um belo alojamento de funcionários da Vale, trazendo o contraste entre a pobreza da região e o poderio econômico da mineradora.

Diferença esta que desperta a atenção de algumas adolescentes da cidade, com esperança de terem uma vida melhor. “Elas veem essas camionetes das empresas andando por aí, com homens com poder aquisitivo maior, e um alojamento como este da Vale em meio a tanta pobreza, isso mexe com o imaginário das meninas, o que as faz procurar os funcionários”, explica Neto.

Passa das 16h do sábado, 25 de março, e Cristina*, uma adolescente de 15 anos maquia-se em frente a um minúsculo espelho, pendurado numa das paredes da casa de taipa de três cômodos, que divide com a mãe, vendedora ambulante, e quatro irmãos mais novos.

Escolhe atentamente a roupa que vai vestir, entra num dos cômodos da casa e depois de vinte minutos reaparece pronta. Com seus longos cabelos amarrados, olha pela última vez ao espelho, para antes das 18h sair de casa e ir até o portão do alojamento da Vale ou para algum bar da cidade frequentado por funcionários.

“A gente fica no portão acenando para os homens de dentro do prédio da empresa, muitos deles saem para conversar com a gente. Aí marcamos alguma coisa de passear ou de ir a algum barzinho”.

Cristina revela que perdeu sua virgindade assim, aos 13 anos, com um funcionário da Vale. “Foi bom. Todas as vezes em que saímos, ele me dava algum dinheiro”.

Ao escurecer, no portão do alojamento da Vale, aglomera-se meia dúzia de meninas que prontamente são atendidas por alguns homens, indo até o portão conversar e acariciar, num primeiro momento, as mãos das adolescentes através dos portões.

Para Nonato Masson, advogado do Centro da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (CDVDH) as “crianças e adolescentes não se prostituem, pois ainda não têm discernimento para assumir isso como profissão, pois estão em formação psicológica e social. Portanto, o que ocorre é que são exploradas sexualmente, mesmo”.

Surto

Dona Maria Oliveira teve 19 filhos, dentre eles, dez apenas sobreviveram diante das dificuldades oriundas da pobreza vivida por ela e pelo marido na cidade de Bom Jesus das Selvas, um município no interior do Maranhão que recebeu no inicio do ano passado mais de 3 mil homens que trabalharão na duplicação da Estrada de Ferro de Carajás, sob concessão da Vale.

Dos dez filhos que vingaram, três são homens e sete mulheres, três delas entre 14 e 16 anos. Segundo Meriam da Pastoral da Criança de Bom Jesus das Selvas, as três meninas já frequentaram pontos de prostituição.

Algo que se tornou corriqueiro para muitas meninas da cidade, conforme relata Tatiane Albuquerque, que coordena no Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Bom Jesus das Selvas, um projeto cultural voltado para adolescentes em risco de exploração sexual. “São meninas pobres que passaram a frequentar pontos de prostituição, que aumentaram com a chegada das empresas”.

O conselho tutelar da cidade constatou que aumentou o número de adolescentes grávidas dos 13 aos 16 anos, além das doenças sexualmente transmissíveis, desde o inicio das obras de duplicação da via férrea na cidade.

Para Gildázio Leão, funcionário da Secretaria de Saúde de Bom Jesus das Selvas, com a chegada das empresas sem políticas definidas para sanar ou minimizar os problemas, corre-se o risco de se ter um surto de doenças contraídas sexualmente no município.

“Se a gente tem um aumento da população com a chegada das empresas, pessoas que chegam e que já podem ter o vírus, ou que mantiveram relações desprotegidas com essas menores podemos ter uma aumento considerável de pessoas infectadas”, esclarece.

Atualmente vinte e cinco pessoas foram diagnosticas com o HIV positivo, apenas 12 estão em tratamento no município, cinco com idade entre 13 e 20 anos, segundo dados da Secretaria de Saúde de Bom Jesus das Selvas.

Para Leão, no entanto, esse número pode ser até duas vezes maior, já que não se tem obrigatoriedade da identificação do soropositivo no Brasil.

Rebeca*, uma das filhas de dona Maria Oliveira, é uma das adolescentes com suspeita de estar infectada com o vírus, mas tem medo de fazer o teste. Aos 14 anos, frequenta assiduamente os pontos de prostituição da cidade por troca de bebida e dinheiro. “O que antes era dificultoso para as meninas, ganhar dinheiro, de certo modo tornou-se fácil, pois hoje quem freqüenta esses bares são homens assalariados”, diz Albuquerque.


* Nomes fictícios

http://www.brasildefato.com.br/node/6232


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Taxa de Iluminação: grande golpe.


A taxa de Iluminação Pública, instituída no ano passado em Caeté, faz neste mês de maio um ano e, infelizmente, não temos nada a comemorar. A polêmica taxa que andou na pauta de diversas administrações, sendo sempre rechaçada, na administração atual foi aprovada com o apoio da maioria dos vereadores da Câmara Municipal. Pois bem, melhor, pois mal, após aprovada a CEMIG ("a melhor energia do Brasil"), beneficiária do valor a ser descontado nas contas dos consumidores, teria um prazo, que nunca poderia ser de um ano, para promover benfeitorias na rede de iluminação pública, dentre elas, instalar luminárias nos postes de ruas às escuras há anos e que sempre representam um risco à segurança das pessoas. Passou-se um ano e nada, a mesma Câmara que aprovou a taxa, pressionada pelos cidadãos andou convocando reuniões com a empresa questionando-a do início dos serviços e depois de muito “lero-lero” nada foi feito. Resumo a história está cheirando a um grande golpe contra o contribuinte, que já suporta uma carga tributária absurda, pois a prefeitura resolveu o seu problema da forma mais cômoda, simplesmente repassou-o para a população. Agora como fica? O dinheiro arrecadado com a taxa não está trazendo nenhum benefício para a cidade e seus moradores e parece que os nossos governantes não estão preocupados com isso e dessa forma, todos os cidadãos precisam agir, exigindo a revogação da já famigerada taxa e, principalmente, acionando o Ministério Público para se apurar as responsabilidades e exigir a devolução dos valores pagos.

O Macaca está nessa luta.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Atingidos pela Vale

II Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale

01/05/2011

Mais de 50 delegados de vários países do mundo encontraram-se em Belo Horizonte para debater estratégias de resistência contra impactos e ameaças sócio-ambientais e trabalhistas provocados pela mineradora. Linhas políticas contundentes unificam o movimento.

Um histórico de anos de resistência, em diversos países do mundo, levou os movimentos e as comunidades que se consideram atingidas pelas operações da mineradora Vale a realizar o II Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale.

Em 2010, em ocasião da primeira edição, 160 pessoas de 12 diferentes países inauguraram essa estratégia de articulação entre vítimas do ciclo de mineração e siderurgia da multinacional verde e amarela.

Ao longo do ano passado, vários eventos e atividades pautaram a resistência do movimento: entre eles, a greve de um ano inteiro no Canadá, a participação a várias assembléias de acionistas da Vale expressando as críticas das comunidades, a divulgação do Dossiê dos Impactos e Violações da Vale no mundo, a atuação da Federação Internacional dos Direitos Humanos em pesquisa das violações de direitos em dois casos de Açailândia/MA e ação penal interposta contra dois diretores da siderúrgica CSA no Rio de Janeiro.

Ao chegar do novo ano, o Movimento Internacional dos Atingidos voltou a convocar um encontro, de tal forma que entre 25 e 29 de abril de 2011 encontraram-se em Belo Horizonte cerca de 50 representantes de comunidades, sindicatos, movimentos sociais e de ambientalistas para debater a conjuntura econômica e política da Vale, trocar experiências a respeito de seus impactos no mundo e afinar métodos e atividades para o futuro de curto e médio prazo. A presença de delegações de Moçambique, Indonésia e Canadá, bem como a representação do Observatorio Minero de Conflictos en America Latina (OCMAL), enriqueceram o debate e a força do movimento.

Algumas linhas políticas chave foram traçadas na ocasião.
O movimento luta pela institucionalização de territórios livres da mineração (áreas de exclusão), pelo direito de dizer não a novos empreendimentos e pela consulta prévia às populações atingidas pelo ciclo de mineração.

Onde há operações já instaladas, exige reparação integral dos impactos e indenizações para as pessoas e comunidades.

É urgente a reflexão sobre a agregação dos custos sociais e ambientais da mineração, bem como o aumento dos royalties, sua distribuição (com controle social) a todos os municípios atingidos e sua destinação social, inclusive quanto ao futuro das comunidades.

Os atingidos lutam pela democratização das decisões da empresa, contra a sua criminalização, contra a precarização do trabalho e pelo fim do financiamento público à Vale.

A discussão não se reduz à empresa, mas tem a clara percepção das conexões e cumplicidades entre esta, todo o sistema de mineração e o próprio Estado. Também em seus objetivos, os atingidos visam ampliar a discussão sobre o modelo de desenvolvimento e exploração mineral para função social, levando em conta o debate atual sobre os direitos da natureza e o bem-viver.

http://www.justicanostrilhos.org/nota/721